O Programa Europeu Erasmus tem proporcionado, a muitos jovens europeus, o contacto com outros jovens dos mais variados países da União, num intercâmbio que faz com que eles se sintam parte integrante de uma Europa que se deseja mais unida e falando a uma só voz. Alguns destes estudantes, antes de ingressarem no Ensino Superior, ou até nas férias escolares, fazem mini-cursos, e agora até há muitos que optam por ir para os antigos países de leste para aprenderem a língua.
Com a União Europeia a alargar-se (já somos 27 estados membros), o aumento das trocas comerciais e respectiva abolição de fronteiras entre os países, a tradução e o conhecimento de línguas tem muito peso nos currículos dos jovens que procuram o primeiro emprego.
Estes países possuem escolas para estrangeiros, com modernas instalações, alojamentos para os estudantes e professores especializados no ensino intensivo da língua. A par disso, há a possibilidade de os alunos, nos tempos livres, poderem fazer visitas a diversas cidades e assim conhecerem o país de acolhimento.
Cá em Portugal, além de cursos que se organizam para imigrantes, temos as Universidades Autónoma de Lisboa, da Beira Interior e Lusófona que promovem cursos de verão, para o estudo da língua portuguesa, para estudantes estrangeiros, o que é notoriamente insuficiente para dar a projecção que a língua portuguesa necessita.
A realidade é que a nossa língua nunca se afirmou verdadeiramente no mundo, isto apesar de ser a terceira mais falada. Ao contrário da espanhola que, nos últimos anos, já suplantou a francesa na área dos negócios e trocas internacionais.
A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) abriga uma população superior a 223 milhões de habitantes, e tem uma área total de 10.742.000 km² - maior que o
Canadá, o segundo maior país do mundo.
Desta Comunidade fazem parte Portugal, Angola, Brasil, Cabo verde, Guiné-Bissau, Moçambique, S. Tomé e Príncipe e Timor-Leste. Macau que foi entregue à China em 1999, ainda tem o português como uma das línguas oficiais.
Alguns países de África têm idiomas crioulos derivados do português, pela presença portuguesa nesses territórios desde o século XV. São eles a Guiné Equatorial e as Maurícias. Menciono ainda a Galiza, onde há galegos defendem o ingresso na CPLP, alegando que o galego nunca se separou verdadeiramente do português e seria, agora, um dialecto do português original.
Com todas estas razões, seria natural que defendêssemos a nossa língua a todos os níveis e a impuséssemos ao mundo, já que somos muitos em todos estes países. O tão falado Acordo Ortográfico preparado pela CPLP em 1990 e que ainda aguarda a entrada em vigor, daria decerto uma grande ajuda, pois preconiza a adopção de uma ortografia comum a toda a
lusofonia. Os nossos vizinhos espanhóis, defensores acérrimos da sua língua, quando falamos com eles em português, dizem que não entendem e obrigam-nos a comunicar com eles num “portinhol” improvisado. O mesmo não se passa por cá quando recebemos turistas. Tentamos entendê-los, falar o idioma deles ou então o inglês que quase toda a gente domina.
E se formos até ao Algarve, olhando para os anúncios, outdoors, cardápios de restaurantes e bares, anúncios de imobiliárias, etc, até parece que nem estamos em Portugal. Aparece tudo escrito em inglês ou alemão e, quando muito, vem depois, por baixo, em letrinhas pequenas, a mensagem em português, quando deveria ser o contrário.
Ora nós temos, na nossa já longa História, um passado de multiculturalidade e de convivência com muitos outros povos. Isto já nos vem do tempo das Descobertas. Somos um povo, por natureza, “desenrascado” e complacente que se adapta a tudo e a todas as realidades. Não nos impomos a ninguém, não batalhamos.
Mas agora, mais que nunca, há que fazer com que o mundo nos entenda na nossa língua, a língua de Camões. Tenhamos a coragem de dizer aos outros que não os entendemos, que aprendam eles também o português, uma língua falada por 223 milhões de pessoas. Apostemos a sério, no ensino da mesma, no país e no estrangeiro. Criemos as condições necessárias para acolher condignamente quem queira cá vir fazer cursos intensivos de português, em qualquer altura do ano e não só no verão. Temos que defender a nossa identidade nacional.
Afinal a nossa pátria é a nossa língua.
Maria de Portugal
(Publicado na "Gazeta de Lagoa")