sexta-feira, agosto 31, 2007

Descobrimentos


Não chóro por nada que a vida traga ou leve. Há porém paginas de prosa que me teem feito chorar. Lembro-me, como do que estou vendo, da noute em que, ainda creança, li pela primeira vez numa selecta o passo celebre de Vieira sobre o Rei Salomão, "Fabricou Salomão um palacio..." E fui lendo, até ao fim, tremulo, confuso; depois rompi em lagrimas felizes, como nenhuma felicidade real me fará chorar, nenhuma tristeza da vida me fará imitar. Aquelle movimento hieratico da nossa clara língua majestosa, aquelle exprimir das idéas nas palavras inevitaveis, correr de agua porque ha declive, aquelle assombro vocalico em que os sons são cores ideais - tudo isso me toldou de instincto como uma grande emoção politica. E, disse chorei; hoje, relembrando, ainda chóro. Não é - não - a saudade da infancia, de que não tenho saudades; é a saudade da emoção d'aquelle momento, a magua de não poder já ler pela primeira vez aquella grande certeza symphonica.Não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriotico. Minha patria é a lingua portuguesa. Nada me pesaria se invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incommodassem pessoalmente. Mas odeio, com odio verdadeiro, com o unico odio que sinto, não quem escreve mal portuguez, não quem não sabe syntaxe, não quem escreve em orthographia simplificada, mas a pagina mal escripta, como pessoa própria, a syntaxe errada, como gente em que se bata, a orthographia sem ípsilon, como escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse. Sim, porque a orthographia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-m'a do seu vero manto régio, pelo qual é sanhora e rainha.
Escrito de Bernardo Tavares, um dos menos conhecidos heterónimos de Fernando Pessoa, em 1931

(Postado por HelenaTereno)

quinta-feira, agosto 30, 2007

domingo, agosto 26, 2007

Mestre Túlio (22/05/07)


Sessão do Canto das Letras coordenada pelo Mário Montes.
(clique na imagem para ver sff)
A. Gil

quinta-feira, agosto 23, 2007

trajecto

fogem as asas ao voo estéril dos homens
cegos.
escapam-se as pétalas de nuvens
pelas suas bocas na viagem...

morrem as palavras na bruma da queda,
no silêncio da margem invisível
no aleitamento dos que emergem
sedentos por rebentos de sal.
(No teu aniversário)!
(pétalas para o teu "trajecto", Laura.De colegas e amigos, ASAS)
canibal do sal - nuno albuquerque vaz
postagem teresinha

quarta-feira, agosto 22, 2007

Escrita Criativa



Sessão do CANTO DAS LETRAS de 17 de Abril de 2007 orientada por LAURA MIRANDA. Clique na imagem sff.
(A. Gil)

sexta-feira, agosto 17, 2007

«MARRABENTA»


A história da Marrabenta, a música tradicional de Moçambique.
Trata-se de uma gravação feita em 1970.
(António Gil)

quinta-feira, agosto 16, 2007

Segredo


Sei um ninho.
E o ninho tem um ovo.
E o ovo, redondinho,
Tem lá dentro um passarinho
Novo.
Mas escusam de me atentar:
Nem o tiro, nem o ensino.
Quero ser um bom menino
E guardar
Este segredo comigo.
E ter depois um amigo
Que faça o pino
A voar...

Miguel Torga, in "Diário VIII"

segunda-feira, agosto 13, 2007

A Camões



"A Camões, comparando com os dele
os seus próprios infortúnios"


Camões, grande Camões, quão semelhante
Acho teu fado ao meu quando os cotejo!
Igual causa nos fez perdendo o Tejo
Arrostar co sacrílego gigante:

Como tu, junto ao Ganges sussurrante
Da penúria cruel no horror me vejo;
Como tu, gostos vãos, que em vão desejo,
Também carpindo estou, saudoso amante:

Lubíbrio, como tu, da sorte dura,
Meu fim demando ao Céu, pela certeza
De que só terei paz na sepultura:

Modelo meu tu és... Mas, ó tristeza!...
Se te imito nos transes da ventura,
Não te imito nos dons da natureza.

Bocage
(postado pela Helena Tereno)

sábado, agosto 11, 2007

Viagem espacial

O astronauta é um pernalta
num salto fica perto da lua.
Oh quem me dera
ser assim alto,
num foguetão em asa ou cápsula
entrar em órbita, descer na lua
voltar à noite para minha casa,
dormir à noite na minha cama!
...
O astronauta
é um pernalta
que voa e chama.
(Maria Alberta Menéres)
Publicou carolina

domingo, agosto 05, 2007

Fado De Coimbra, Serenata Monumental


clicar em cima para ouvir a Serenata Monumental Da Queima das Fitas
postagem de Maria Dulce Duarte

FUR - Um retrato imaginário de Diane Arbus


Semelhante a uma fotografia actual de Diane Arbus que nos leva por mundos estranhos e desconhecidos, FUR explora a transformação de uma mulher tímida numa das mais poderosas e originais artistas mundiais. Nicole Kidman interpreta o papel de Arbus, uma esposa fiel e uma mãe devota cujo talento inato e obsessões sombrias estão profundamente em conflito com a vida convencional que leva em 1958, em Nova Iorque. Robert Downey Jr. interpreta o papel de Lionel, o novo e enigmático vizinho de Diane que a ajuda no início do seu percurso em se tornar na artista que ela estava destinada a ser (um filme chegado agora ao mercado de aluguer).
Ninguém passa impune diante de uma fotografia feita por Diane Arbus. A imagem desconcerta o nosso olhar e permanecemos capturados pela estranha sensação que ela provoca. As suas fotos tocam no fundo da alma deixando na memória um traço, marcado como um arranhão.
(vejam mais em "A ARTE NO SÉCULO XX" clicando em:
http://oseculoprodigioso.blogspot.com/2007/03/arbus-diane-fotografia.html

sábado, agosto 04, 2007

Poesia II- 1930-1932


Guardo ainda, como um pasmo
Em que a infância sobrevive
Metade do entusiasmo
Que tenho porque já tive.
...
Quase às vezes me envergonho
De crer tanto em que não creio
É uma espécie de sonho
Com a realidade ao meio.
...
Girassol do falso agrado
Em torno do centro mudo
Fala, amarelo, pasmado
Do negro centro que é tudo.
...
Fernando Pessoa
postagem de Maria Dulce Duarte

sexta-feira, agosto 03, 2007

Para uma pintura de Picasso

Menina da barca
põe a barca no mar
abre o mar com as mãos
lança os sonhos para o fundo
pára de sonhar
..
Os sonhos são algas
que a maré desfaz
navega navega
Menina da barca
não olhes
para trás
...
(Inspiração Picassiana...)
Publicou Carolina (sardinheiras em 24 /04/06)

quinta-feira, agosto 02, 2007

Luar de Agosto


As carícias são tão necessárias para a vida dos sentimentos
como as folhas para as árvores.
Sem elas, o AMOR morre pela raiz.
Nathaniel Hawthorn ( Postagem e Fotografia - Teresinha)