Então foi assim: o tempo correu no firmamento e o homem, para não o perder, aprisionou-o no calendário. Contudo não era só isso o necessário, porque seguindo-se os passos do tempo, não se obtem o destinatário. Apenas se possui uma referência de toda a ausência que o tempo deixou para trás, aquele lugar repleto de lembranças, bem no centro de onde estivemos, mas onde não estaremos mais. O que há para diante? Só o tempo sabe. Mas nós podemos fazer um plano, podemos criar em esboço uma trajetória razoável para o futuro. Basta para isso viver com responsabilidade e respeito. Respeito ao próximo, respeito à natureza e a tudo o que nos circunda, nesta ocasião momentânea da nossa existência. Para que um dia sejamos uma boa recordação, e que os nossos substitutos neste plano se lembrem de nós com reverência, como um lapso de ouro no episódio da criação.
Gerson F. Filho
Publicado por António Gil em Português Europeu
2 comentários:
E como Tempo é Mudança, recordemos:
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.
Luís de Camões
Belíssimo, Larita!
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