Na minha meninice, a certas mulheres, chamava-se-lhes "mulheres da vida".
Perto da rua onde eu morava com a minha avó, havia até uma casa, numa travessinha escondida, onde essas mulhres prestavam os "seus serviços".
Com essa gente, não era aconselhável, ficar parado na rua a conversar.
As pessoas "recatadas" não deviam sequer olhar para tais pessoas, dedicando- lhes todavia, um disfarçado cochicho.
Pois, há poucos dias, tive o prazer de rever e conversar com uma dessas mulheres, numa tasquinha em Santiago. Eu estava a comer quando ela entrou e me cumprimentou com muita afabilidade (conhece- me desde miúda, afinal tinhamos sido vizinhas).
- Olha a Maria Carolina, então como estás?
Convidei-a para se sentar e ali ficámos, conversando das nossas vidas, dos nossos familiares, do frio e do reumático... E não me pareceu que aquela mulher fosse menos senhora do que qualquer das outras mulheres que passavam na rua.
Saí da tasca pensando no Jorge Amado e na sua TERESA BAPTISTA CANSADA DE GUERRA.
Foi com a leitura deste livro, há muitos anos atrás, que aprendi a compreender e até respeitar essa tais "mulheres da vida" e a ter por elas simpatia.
E a quem faz, ainda hoje, distinção entre" mulheres da vida" e "senhoras", dou um conselho, leiam esse livro e digam lá se, como "arma" de afectos não usam todas o "xibiú"?
E não é o "xibiú" que tracam quando estão em guerra? (Assim fazia Teresa Baptista Cansada de Guerra).
Nota: Xibiú, vocábulo brasileiro, lido e relido nos livros de Jorge Amado.
(Pintura de Picassso)
(In sardinheiras em o6/o4/2005)
Perto da rua onde eu morava com a minha avó, havia até uma casa, numa travessinha escondida, onde essas mulhres prestavam os "seus serviços".
Com essa gente, não era aconselhável, ficar parado na rua a conversar.
As pessoas "recatadas" não deviam sequer olhar para tais pessoas, dedicando- lhes todavia, um disfarçado cochicho.
Pois, há poucos dias, tive o prazer de rever e conversar com uma dessas mulheres, numa tasquinha em Santiago. Eu estava a comer quando ela entrou e me cumprimentou com muita afabilidade (conhece- me desde miúda, afinal tinhamos sido vizinhas).
- Olha a Maria Carolina, então como estás?
Convidei-a para se sentar e ali ficámos, conversando das nossas vidas, dos nossos familiares, do frio e do reumático... E não me pareceu que aquela mulher fosse menos senhora do que qualquer das outras mulheres que passavam na rua.
Saí da tasca pensando no Jorge Amado e na sua TERESA BAPTISTA CANSADA DE GUERRA.
Foi com a leitura deste livro, há muitos anos atrás, que aprendi a compreender e até respeitar essa tais "mulheres da vida" e a ter por elas simpatia.
E a quem faz, ainda hoje, distinção entre" mulheres da vida" e "senhoras", dou um conselho, leiam esse livro e digam lá se, como "arma" de afectos não usam todas o "xibiú"?
E não é o "xibiú" que tracam quando estão em guerra? (Assim fazia Teresa Baptista Cansada de Guerra).
Nota: Xibiú, vocábulo brasileiro, lido e relido nos livros de Jorge Amado.
(Pintura de Picassso)
(In sardinheiras em o6/o4/2005)
Publicou carolina
4 comentários:
Pois é.
Parece que é um tema que ainda assusta, pois não aparece ninguém a comentar. Pois comento eu! No tempo da "outra senhora", em que a mais velha profissão do mundo se exercia com controlos de sanidade e à vista de toda a gente, havia em Tomar uma rua (Pedro Dias, salvo erro!) toda ela ocupada com casinhas de "Mulheres da Vida". E também nessa altura era norma só os rapazes por lá passarem, as raparigas estavam proibidas sequer de se chegarem ou passar nela, relegadas aos topos da rua onde, meio às escondidas, disfarçando a curiosidade que as roía, tentavam vislumbrar uns vultos de mulheres, novas, assim assim, mais velhas, algumas mesmo velhas (as patroas), sentadas às soleiras das portas, apanhando ar, à espera do "Senhor que se segue". Nessa época, e fazendo fé nas histórias que contavam, a motivação que para lá as encaminhava era a maior parte das vezes um qualquer percalço na vida, o marido que as abandonou com um filho nos braços, a necessidade de ganhar dinheiro por serem o único sustento de uns avós velhotes a necessitarem de uma operação urgente ou de medicamentos imprescindíveis para continuarem no mundo dos vivos, a falta de emprego, o desemprego muitas vezes ocasionado por o patrão ter abusado delas e depois a patroa as ter mandado para o olho da rua, a necessidade de ganharem uns cobres para poderem continuar os estudos, o engano que muitas vezes as tirou das aldeias e as trouxe, encadeadas quais borboletas por um foco errante, para as cidades grandes, onde se viram de repente abandonadas e sem posses ou vontade de regressar, incapazes de confessar às pessoas de lá que não tinham conseguido, que eram perdedoras.
Hoje todo o panorama é diferente, perigosamente diferente. A motivação que leva uma grande parte das jovens para essa vida segundo as estatísticas e vários estudos feitos é o despezismo, a vontade insaciável de ter, o sentirem-se inferiores por não conseguirem comprar o maior plasma, o vestido de marca, o perfume que custa os olhos da cara, a operação de correcção que ambicionam, o telemóvel topo de gama última geração. E tudo isto é feito disfarçadamente, sem nenhum controle de sanidade, sem regras, pelas ruas, jardins e pinhais já não só das grandes cidades, mas também dos pequenos centros. Com anúncios nos jornais, às escancaras, ou disfarçada em casas de alterne, de massagens milagrosas ou "menina prendada procura senhor para...".
E sabem quem ganha com tudo isto, com a hipocrisia que reina neste "Reino do Faz-de-Conta" que apregoa orgulhosamente que acabou com a prostituição? Sabem? A SIDA. Leiam as últimas estatísticas e verão que ela é a única ganhadora!
Assuntos ainda "tabu".
Pensei bem antes de postar.
Mas fi-lo,pensando "mulheres da vida" da minha infância. E como dizes há entre essas e as de agora uma grande diferença. As minhas "mulheres da vida", são essas de Jorge Amado. E essas merecem a nossa compreensão.
É evidente que não falo das que sem escrúpulos, fazem dessa profissão um meio fácil de "ganhar a vida", para se rodearem de futilidades.
Com gente dessa eu lá perder o meu tempo!
Falo de "Mulheres da vida", não falo de TRONGAS, nem de CORJEDO (como dizia a minha avó!)
Obrigada, Gil!
Cheguei do fim de semana !
Pois sobre este assunto da prostituição já os meus amigos disseram tudo e muito bem dito.
Nada acabou e como o Gil, diz é verdade aqui em Sines, não é preciso ir muito longe basta ir para os lados do PLUS .)))
Havia perto de mim uma senhora que se prostituia! ela tinha uma filha pequena, a quem escondia o que fazia, para a menina, a mãe ia trabalhar!... nunca levou homens para casa dela, sempre respeitou a filha!
A filha cresceu, e ela sempre foi uma boa mãe!... e o seu objectivo era que a filha estudasse, e fosse uma mulher digna; mas para isso ela tinha que ter dinheiro, não só para o seu sustento, mas também para garantir um bom futuro para a sua filha.
Não era aquela vida que ela queria!... mas por força das circunstâncias, dizia ela, que não tinha outro remédio!...
Bom, mais tarde arranjou emprego numa firma, onde está até hoje!continua com algumas dificuldades monetárias, mas agora tem uma vida digna, e aos poucos vai alcançando o seu objectivo , que é garantir um bom futuro para a sua filha.
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