segunda-feira, março 26, 2007

Falares antigos...




Havia naquele dia um grande labarito.
O galo todo rechelês cacarejava, arrafanhando todo o milho. Depois amarinhou para o poleiro.
O cão rosnava acaçapado atrás da casota.
A avó estava apoquentada, numa mão levava uma rodilha e na outra, uns tanganhos para o lume.
Nisto, caiu uma zipada e o avô foi ao postigo bispar.
A chuva era tanta que até fazia esporedo.A mãe apareceu com a sogra à cabeça. Pegou na enfuza e acilhou-a em cima da sogra.
Na cheminéi via-se um cacifre todo cheio de morraça que a gata lembia.
- Ó mê estapor- bradava a avó à neta- anda cá p'ra eu te fazer a marrafa!
Mas a gaiata era uma lembrisca! Nã tinha trembelho e caiu um malhão em cima duma caçoila e escaqueirou-a toda.
A mãe gritou:
-Grande zòpeira! Ainda levas um ensaio de porrada!
............
(Texto composto com "palavras de antigamente", recolhidas do livro«TEMPOS DE MUDANÇA» de Maria da Conceição Vilhena. Um interessante livro sobre Santiago do Cacém e o seu concelho, que me faz recordar "passados" ainda tão "presentes"na minha memória).
...
Publicou carolina
rechelês(vaidoso, emproado); labarito (barulho); acaçapado (encolhido,escondido); rodilha( pano); tanganhos(pauzinhos para atear o lume); zipada(chuvada); bispar(espreitar); esporedo(poeira); sogra( rolo de pano que se punha à cabeça para transportar coisas pesadas); enfuza( recipiente de barro para ir ao poço buscar água); cacifre (frigideira); morraça (sujidade); estapor (coisa ruim); marrafa(risca no cabelo);lembrisca( endiabrada); trembelho (juízo); malhão (queda); caçoila( tacho de barro); zòpeira (velhaca).

10 comentários:

Anónimo disse...

Adoro recordar estes termos, para mim não foi dificil traduzir, vamos lá ver o nosso amigo Gil se fica atrapalhado ou não.Nós fazemos a tradução se fôr necessário.
Que saudades
Beijinhos

Anónimo disse...

Carolina, é muito bom recordar coisas da nossa infância, já me falas-tes nesse livro, de ter "ditos" antigos muito engraçados e que falam da nossa terra, Santigo do Cacém, bjh.

Carolina disse...

Pois é. Vou dar uma ajuda a quem não percebe os termos, eu própria fiquei surpreendida em vê-los no livro. Pois nunca mais os escutei "ao vivo".

Anónimo disse...

Bom dia meus amigos!
Vim visitar vocês e deixo o meu carinho e abraço gaúcho.
Mana
Meia Praia - SC - Brasil

Anónimo disse...

Parabéns ASAS,o Brasil a aderir.
BJS

António Gil disse...

E agora também vão certamente aderir os nossos irmãos do outro lado do Atlântico, desejosos de aprender esta nova língua que se descortina no último poste. Não faltarão curiosos a bispar este linguajar lembrisca...! E com duas professores do calibre da Carolina e da Bia, em breve toda a gente vai ficar catedrática.

Anónimo disse...

Carolina, como é bom ser visitada do outro lado do Atlântico !
Pois a visita da Mana, aos blogs é muito agradável, volte sempre um bjh.

Carolina disse...

Saravá, Manas e Manos do Brasil!!!

(Gil, diremos então linguajar lembrisc(o), no masculino! Ai...ai a professora!....)

Jelicopedres disse...

Este texto está muito engraçado Carolina. Por acaso tenho um livro de Manuel João da Silva, intitulado Riqueza dos Falares Regionais.
Sabes o que é uma "Lambana"?
(É uma comida mal confeccionada e de sabor desagradável por falta de temperos)
Também não conhecia estes falares regoionais,o que não admira,pois não sou de cá. Mas gosto muito de viver no Alentejo.;))

Carolina disse...

Pois é um exemplar desses que eu tive e ao qual agora "perdi o norte"!
Será que ainda o consigo arranjar na Câmara de Santiago?
Vou tentar!