domingo, novembro 04, 2007

Variação para um tema...


CANÇÃO

Do búzio
que me deste
fiz uma canção.
A música
es
co
r
r
e
na brisa
que vem do mar.

As palavras
são estrelas
no teu olhar.
(Carolina, 2006-05-25 ) - Publicado por Teresinha - Fotografia Fátima Miranda

quinta-feira, novembro 01, 2007

Retornados (RAI 3)


E outros assuntos no programa "Mediterraneo" da RAI 3.
A reportagem sobre os Retornados é logo a primeira.
Clique na imagem sff (demora um pouco a carregar - se
não iniciar deve clicar na seta do PLAY)
A. Gil

segunda-feira, outubro 29, 2007

Parabéns!



Parabéns e Felicidades
para a Rainha da Dança
moça bonita e airosa
A nossa Amiga
ANA ESPERAÇA
.....
Ela e o seu Manel
não faltam ao bailarico.
Um diz: - Vamos ao baile, Menina!
Ela responde:
- Cá em casa é que eu
não fico!
Publicou carolina


quinta-feira, outubro 25, 2007

Aula de Inglês - Pelos "Sai debaixo"


À especial atenção da Profª Rosa Maria e seus alunos(as).
Clique na imagem sff.
A.Gil

domingo, outubro 21, 2007

Na escuridão...

Está escuro como breu, um céu sem lua e caminhos sem luz. No vale profundo aninha-se o monte rodeado de completa escuridão.
Na varanda, aconchegada com uma manta bem fofinha, beberrico chá de ervas, olho o escuro e ouço unicamente as cigarras.
No ambiente há o silêncio e a paz dos lugares que nos reconfortam.
O gato, em pose, queda-se na mesa rente à janela.
De repente, o restolhar das folhas deixa adivinhar um movimento.
Quedo-me num espanto incontido:
- O que é isto? Um cão? Não, não!
- É uma raposa!
Uma raposa, ali mesmo a meus pés, junto às cadeiras do alpendre, passeia-se para cá e para lá com calma e sem receio, indiferente ao flash da máquina!
Momentos depois banqueteia-se, numa pequena clareira do jardim, com o mais recente fruto da caçada: um rato!

Texto e fotos de Laura
20/10/2007

quinta-feira, outubro 18, 2007

Uma longa amizade

(A "Árvore da Vida" de Klimt)
UMA LONGA AMIZADE
Zé das Caliças irritado, afasta com a mão nodosa de artrite, a mosca que teimosamente insiste em pesquisar a sua pele rugosa e cansada.
- Então não querem lá ver esta safada! Levas uma cachaporrada!
Manel do Paço olha na direcção onde julga estar a mosca sem vida, nada vê, mas também não é muito importante esforçar as vistas por causa de uma mosca morta. Prefere orientá-las para o recinto do jardim, onde a azáfama é enorme na preparação das festas da aldeia. O silêncio instalou-se entre os dois amigos, cada um envolvido nos seus próprios pensamentos e recordações.
Nisto, vindo do nada, surge o Malhadinhas, de rabo hirto distribuindo marradinhas às pernas dos dois amigos ainda pensativos.
Os dois velhotes e o bichano envolvem-se em vínculos fluidos de afectos, como colectâneas vivas de prazeres e alegrias. O gato deixa-se invadir por uma lassidão profunda, distribuindo “rons-rons” ritmados. De olhos semi-cerrados é envolvido por uma modorra de prazer e paz, enquanto é afagado carinhosamente pelos seus dois amigos.
Os dois homens olham-se e sorriem. Foi o Manel do Paço que interrompeu o silencio.
- Ó Caliças. já viste este safado? Cada vez está mais meloso, acho que ele anda de Janeiro!
-Talvez, talvez. Ó Manel tu ainda te lembras quando foi Janeiro?!
-Olha, olha, então achas que eu sou esquecido como tu?!
Os dois amigos riem-se das suas próprias brejeirices tardias e, vão nos seus passinhos cansados até ao jardim onde os preparativos para a festa, estão já nos finais. Encontram pessoas conhecidas e forasteiros veraneantes, em procura de muita animação e divertimento constante. Em tempos, também eles se divertiam até ao amanhecer de um novo dia, agora, o cansaço dos anos obriga a ter contenção e, lá vão eles em passos curtos até para as suas respectivas casas, tranquilos e serenos como sempre.

Zjesus (Zília)
21-08-2007
Publicou carolina

terça-feira, outubro 16, 2007

"Novinho em Folha"

Dia Internacional da Alimentação
Visite, se quiser, mais um Blogue da Teresinha, que nasceu HOJE!
(precisa ainda, de uma melhor "arrumação", e um pouco de "tempero"...
Postagem - Teresinha Amoroso

terça-feira, outubro 09, 2007

Um fruto descomunal!

Nas ruas de Santo André
Há um pinheiro sem igual.
Nasceu nos seus altos ramos
Uma bobine descomunal!

Quem passa debaixo dele
É melhor se precaver,
Não vá o diabo tecê-las…
E o “fruto” se desprender!

Laura
9/10/2007

quarta-feira, outubro 03, 2007

Florinda Carriça


Desfiar recordações
Florinda Carriça, a custo dá mais um passinho miúdo e cauteloso. Estende as vistas ao longe, mesmo cansadas e enevoadas pelas cataratas a pedir operação urgente e vê o que não querer.
-Tanto que eu trabalhei nestes campos e agora está tudo a mato e abandonado!....Tudo isto era um primor.
O que será feito dos outros? Muitos já morreram, outros foram para casa dos filhos, fechados entre quatro paredes, longe de onde nasceram e viveram. Alguns ficaram na aldeia, como eu. Gosto de estar aqui na minha terra e, sentir o cheiro das estevas, ouvir a cegarrega das cigarras e ver o voar das borboletas. Na Primavera dou sempre a boas vindas às minhas amigas andorinhas, que têm ninho no beiral da minha casinha. Muitos dizem-me que sou louca por gostar destas coisas simples e pequenas. Mas gosto mesmo a valer e, ainda bem que o meu neto Dudu também gosta , assim como a minha nora, que diz : - Aqui respira-se ar puro. Só me dói é ver e sentir o abandono dos campos, outrora cheios de vida, esperança e canseira. Trabalho duro e muita miséria, foi a minha vida.

Florindinha, Florindinha…não sejas mal agradecida, olha que sempre foste saudável, tiveste muita sorte com o homem que escolheste e o filho!....É um tesouro.
E o meu Joaquim?! Que saudades. Deixaste-me há já tanto tempo, mas estás sempre no meu coração. As recordações, as recordações!!! Meu grande maroto!!!Lembro-me muito bem, ainda namoriscaste a maluca da Bertelina! O que será feito dela? Ah, já me lembro, foi para França procurar vida melhor.
Bem! Olha chaparro, obrigado pela sombra que me deste. Já descansei, já vi os campos, devagar e com muito cuidado, vou para casa. Deve estar na hora das raparigas do Centro de Dia, presentearem esta velhota com um rico almocinho.

Zjesus
18-08-07


(Texto da nossa Zília)

(Publicou carolina)



segunda-feira, outubro 01, 2007

Trumpet concerto Haydn Jeroen Berwaerts


No "DIA MUNDIAL DA MÚSICA" deixo este belíssimo concerto de trompete por Jeroen Berwaerts (clique na imagem sff) A.Gil

domingo, setembro 30, 2007

Páginas de Liberdade e Jogos de Infidelidade





Jogos de Infidelidade” retrata a vida amorosa de dois casais: uma actriz de sucesso (Julianne Moore) e o seu marido, pouco dado a sair de casa (David Duchovny); o desleixado do irmão mais novo desta (Billy Crudup) e a sua namorada, aspirante a escritora (Maggie Gyllenhall). O filme acompanha os dois casais, em todos os hilariantes e surpreendentes acontecimentos que se vão sucedendo na tão difícil procura do amor, e na conciliação dessa procura com carreiras, família, traição… e ainda com a eterna e desesperante busca de um bom lugar de estacionamento na ilha de Manhattan.

Mas muito melhor que este filme, aconselho vivamente PÁGINAS DE LIBERDADE.
A duplamente galardoada com um Óscar da Academia Hilary Swank brilha nesta apaixonante história sobre jovens vindos de bairros degradados, criados no meio de tiroteios e de um ambiente violento, e uma professora que lhes dá o que eles mais precisam: uma voz própria. Largada na "zona de tiro" de uma escola dilacerada pela violência e pela tensão racial, a professora Erin Gruwell trava uma batalha para fazer com que a sala de aula passe a ter importância nas vidas destes estudantes (baseado em factos reais).

Vejam as apresentações clicando nas imagens (ambos estão no mercado de aluguer).A.Gil

Para sorrir um pouco!


Clike na imagem

terça-feira, setembro 25, 2007

Parabéns a você...


Parabéns à Carolina
Que acabou de nascer
Ela é tão pequenina
Todos a querem ver!

segunda-feira, setembro 24, 2007

Eu ouvi o passarinho



Clique na imagem, sff.
Trata-se do conjunto TABU, do Ontário (Canadá)

domingo, setembro 23, 2007

Marcele Marceau



Morreu Marcele Marceau, o maior mímico da
actualidade. Para o recordar ou conhecer, clique
na imagem acima.
(A. Gil)

quinta-feira, setembro 20, 2007

A TUNASAS no 2º Aniversário da Biblioteca de Santo André


Clique na imagem sff


O Hipopótamo!

Eu conheço um Hipopótamo
que adora andar nas piscinas
nada, nada e que bem nada
entre elegantes Patinhas.
...
As nadadoras são tantas
que o horário está lotado.
Lançam quás-quás ao "bicho"
dizendo: - Que engraçado!
...
Na aula de Hidroginástica
Faz passinhos de Balet.
Todos vocês O conhecem,
Mas...alguém sabe QUEM é???
...
(Dedicado a um amigo, que espero não fique ofendido!)
Publicou carolina

sábado, setembro 15, 2007

De São Francisco - Califórnia




Fui a S. Francisco, California. Inesquecivel!
Vi o Oceano Pacifico e molhei nele os pés.
kANDANDU
(Arlete Alves)

quinta-feira, setembro 13, 2007

Últimas notícias...

E dizia um rouxinól para o outro:
- Então já sabes a última?
- Eu não. É o quê?
- Acabo de ler no "Jornal da Passarada" que lá para o Alentejo, numa terra chamada qualquer coisa André, há um grupo de sem penas que nos estão a imitar. E para que o logro seja maior, vê lá tu, até se intitulam ASAS. ASAS??? Se não teem penas nem são aviões, porque se dizem ASAS?
- Piu, piu, está o mundo doido. E depois?
- E depois? Ainda perguntas? Sacode as penas e põe lá a moleirinha a funcionar. É claro que por este andar não tarda estamos no desemprego. E adeus gaiolas douradas, com TI e ar reciclado.
- Mas tens a certeza? Não terás lido mal?
- Olha, até te posso dizer que a última vez que cantaram foi exactamente hoje.
- Piu, piu. Meu Deus!
- E segundo vem escrito, tiveram um sucesso enorme.
- Piuuuu, piuuuu, estamos tramados! Temos que fazer qualquer coisa.
- Tive uma ideia. Proponho que comecemos a desafinar. Eles imitam-nos e lixam-se. E nós continuamos os reis do canto, com as mordomias a que temos direito e estamos habituados. E com um pouco de sorte ainda nos convidam para ir cantar à Biblioteca.
- Ideia de passarinho! Apoiado, piu, piu, apoiado.

E assim termina esta história real que eu ouvi contar a um rouxinól, cerca da meia-noite do dia 12 de Setembro de 2007, por sinal uma quarta-feira.

sábado, setembro 08, 2007

sexta-feira, agosto 31, 2007

Descobrimentos


Não chóro por nada que a vida traga ou leve. Há porém paginas de prosa que me teem feito chorar. Lembro-me, como do que estou vendo, da noute em que, ainda creança, li pela primeira vez numa selecta o passo celebre de Vieira sobre o Rei Salomão, "Fabricou Salomão um palacio..." E fui lendo, até ao fim, tremulo, confuso; depois rompi em lagrimas felizes, como nenhuma felicidade real me fará chorar, nenhuma tristeza da vida me fará imitar. Aquelle movimento hieratico da nossa clara língua majestosa, aquelle exprimir das idéas nas palavras inevitaveis, correr de agua porque ha declive, aquelle assombro vocalico em que os sons são cores ideais - tudo isso me toldou de instincto como uma grande emoção politica. E, disse chorei; hoje, relembrando, ainda chóro. Não é - não - a saudade da infancia, de que não tenho saudades; é a saudade da emoção d'aquelle momento, a magua de não poder já ler pela primeira vez aquella grande certeza symphonica.Não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriotico. Minha patria é a lingua portuguesa. Nada me pesaria se invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incommodassem pessoalmente. Mas odeio, com odio verdadeiro, com o unico odio que sinto, não quem escreve mal portuguez, não quem não sabe syntaxe, não quem escreve em orthographia simplificada, mas a pagina mal escripta, como pessoa própria, a syntaxe errada, como gente em que se bata, a orthographia sem ípsilon, como escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse. Sim, porque a orthographia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-m'a do seu vero manto régio, pelo qual é sanhora e rainha.
Escrito de Bernardo Tavares, um dos menos conhecidos heterónimos de Fernando Pessoa, em 1931

(Postado por HelenaTereno)

quinta-feira, agosto 30, 2007

domingo, agosto 26, 2007

Mestre Túlio (22/05/07)


Sessão do Canto das Letras coordenada pelo Mário Montes.
(clique na imagem para ver sff)
A. Gil

quinta-feira, agosto 23, 2007

trajecto

fogem as asas ao voo estéril dos homens
cegos.
escapam-se as pétalas de nuvens
pelas suas bocas na viagem...

morrem as palavras na bruma da queda,
no silêncio da margem invisível
no aleitamento dos que emergem
sedentos por rebentos de sal.
(No teu aniversário)!
(pétalas para o teu "trajecto", Laura.De colegas e amigos, ASAS)
canibal do sal - nuno albuquerque vaz
postagem teresinha

quarta-feira, agosto 22, 2007

Escrita Criativa



Sessão do CANTO DAS LETRAS de 17 de Abril de 2007 orientada por LAURA MIRANDA. Clique na imagem sff.
(A. Gil)

sexta-feira, agosto 17, 2007

«MARRABENTA»


A história da Marrabenta, a música tradicional de Moçambique.
Trata-se de uma gravação feita em 1970.
(António Gil)

quinta-feira, agosto 16, 2007

Segredo


Sei um ninho.
E o ninho tem um ovo.
E o ovo, redondinho,
Tem lá dentro um passarinho
Novo.
Mas escusam de me atentar:
Nem o tiro, nem o ensino.
Quero ser um bom menino
E guardar
Este segredo comigo.
E ter depois um amigo
Que faça o pino
A voar...

Miguel Torga, in "Diário VIII"

segunda-feira, agosto 13, 2007

A Camões



"A Camões, comparando com os dele
os seus próprios infortúnios"


Camões, grande Camões, quão semelhante
Acho teu fado ao meu quando os cotejo!
Igual causa nos fez perdendo o Tejo
Arrostar co sacrílego gigante:

Como tu, junto ao Ganges sussurrante
Da penúria cruel no horror me vejo;
Como tu, gostos vãos, que em vão desejo,
Também carpindo estou, saudoso amante:

Lubíbrio, como tu, da sorte dura,
Meu fim demando ao Céu, pela certeza
De que só terei paz na sepultura:

Modelo meu tu és... Mas, ó tristeza!...
Se te imito nos transes da ventura,
Não te imito nos dons da natureza.

Bocage
(postado pela Helena Tereno)

sábado, agosto 11, 2007

Viagem espacial

O astronauta é um pernalta
num salto fica perto da lua.
Oh quem me dera
ser assim alto,
num foguetão em asa ou cápsula
entrar em órbita, descer na lua
voltar à noite para minha casa,
dormir à noite na minha cama!
...
O astronauta
é um pernalta
que voa e chama.
(Maria Alberta Menéres)
Publicou carolina

domingo, agosto 05, 2007

Fado De Coimbra, Serenata Monumental


clicar em cima para ouvir a Serenata Monumental Da Queima das Fitas
postagem de Maria Dulce Duarte

FUR - Um retrato imaginário de Diane Arbus


Semelhante a uma fotografia actual de Diane Arbus que nos leva por mundos estranhos e desconhecidos, FUR explora a transformação de uma mulher tímida numa das mais poderosas e originais artistas mundiais. Nicole Kidman interpreta o papel de Arbus, uma esposa fiel e uma mãe devota cujo talento inato e obsessões sombrias estão profundamente em conflito com a vida convencional que leva em 1958, em Nova Iorque. Robert Downey Jr. interpreta o papel de Lionel, o novo e enigmático vizinho de Diane que a ajuda no início do seu percurso em se tornar na artista que ela estava destinada a ser (um filme chegado agora ao mercado de aluguer).
Ninguém passa impune diante de uma fotografia feita por Diane Arbus. A imagem desconcerta o nosso olhar e permanecemos capturados pela estranha sensação que ela provoca. As suas fotos tocam no fundo da alma deixando na memória um traço, marcado como um arranhão.
(vejam mais em "A ARTE NO SÉCULO XX" clicando em:
http://oseculoprodigioso.blogspot.com/2007/03/arbus-diane-fotografia.html

sábado, agosto 04, 2007

Poesia II- 1930-1932


Guardo ainda, como um pasmo
Em que a infância sobrevive
Metade do entusiasmo
Que tenho porque já tive.
...
Quase às vezes me envergonho
De crer tanto em que não creio
É uma espécie de sonho
Com a realidade ao meio.
...
Girassol do falso agrado
Em torno do centro mudo
Fala, amarelo, pasmado
Do negro centro que é tudo.
...
Fernando Pessoa
postagem de Maria Dulce Duarte

sexta-feira, agosto 03, 2007

Para uma pintura de Picasso

Menina da barca
põe a barca no mar
abre o mar com as mãos
lança os sonhos para o fundo
pára de sonhar
..
Os sonhos são algas
que a maré desfaz
navega navega
Menina da barca
não olhes
para trás
...
(Inspiração Picassiana...)
Publicou Carolina (sardinheiras em 24 /04/06)

quinta-feira, agosto 02, 2007

Luar de Agosto


As carícias são tão necessárias para a vida dos sentimentos
como as folhas para as árvores.
Sem elas, o AMOR morre pela raiz.
Nathaniel Hawthorn ( Postagem e Fotografia - Teresinha)

domingo, julho 29, 2007

Ana e Vasco

Não: toda a palavra é a mais. Sossega!
Deixa, da tua voz, só o silêncio anterior!
Como um mar vago a uma praia deserta, chega
Ao meu coração a dor.
Que dor? Não sei. Quem sabe saber o que sente?
Nem um gesto. Sobreviva apenas ao que tem que morrer
O luar e a hora e o vago perfume indolente
E as palavras por dizer.
Fernando Pessoa -L´homme - Poesias Inéditas
Sentida Homenagem aos amigos que trágicamente perdi... (perdemos)!
Postagem - Teresinha Amoroso

domingo, julho 22, 2007

PRAIA ... (Porto Covo)


Os pinheiros gemem quando passa o vento
O Sol bate no chão e as pedras ardem.
Longe caminham os deuses fantásticos do mar
Brancos de sal e brilhantes como peixes.
Pássaros selvagens de repente,
Atirados contra a luz como pedradas,
Sobem e morrem no céu verticalmente
E o seu corpo é tomado nos espaços.
As ondas marram quebrando contra a luz
A sua fronte ornada de colunas.
E uma antiquíssima nostalgia de ser mastro
Baloiça nos pinheiros.
Sophia de Mello Breyner - Coral - Obra Poética
Fotografia , Teresinha Amoroso
( Desejo as melhores férias de sempre, a todos os professores, alunos e alunas, da nossa ACADEMIA/ ASAS )

quarta-feira, julho 18, 2007

O Cadeirão casou com a Cadeirinha



O Cadeirão casou com a Cadeirinha.
Nasceu o Banco e o Banco disse:
- Não quero ser Cadeirão,
não quero ser Cadeirinha,
Toda a minha ambição
É ser Banco de Cozinha!
Adeus, ó pai Cadeirão.
Adeus, ó mãe Cadeirinha.
Mário Castrim
(Postado por Helena Tereno)

segunda-feira, julho 16, 2007

Terceira Vida



Três Vidas em Três Canções (título provisório)

O Outono corria calmo, manso como as folhas que a leve brisa amontoava aos cantos. O rio também deslizava por baixo da ponte San Telmo sem sobressaltos, como que meio adormecido. Dizia-se que o Guadalquivir marulhava nas noites calmas velhos segredos de mouras encantadas, trazidas para Espanha de reinos longínquos, do outro lado do estreito. Havia mesmo quem jurasse ter chegado à fala com alguma delas, figuras que lhes tinham aparecido saídas do nada, contado histórias mirabolantes e, como que por magia, se tinham esfumado no ar. Provavelmente eram produto do saboroso manzanilla, vinho fino e seco, de que se usava e abusava muitas vezes. Como sempre em Sevilha e naquela estação, a temperatura devia rondar os 32 graus centígrados. A vida decorria ao ritmo da cidade, com movimentos lentos, sem pressa, onde tudo e todos se esforçavam para não gastar energias, religiosamente reservadas para as “fiestas”, onde inexplicavelmente se soltavam com um vigor de espantar.
Combinara encontrar-me com Guadalupe na Plaza de la Maestranza. A tarde era de touros, ouviam-se os “olés” do público, quase abafando um vibrante pasodoble tocado por uma orquestra de metais. Ocorreu-me a letra cantada por Rocio Jurado e que tão bem descrevia a festa brava:

Oro, plata, sombra y sol,
el gentío y el clamor,
tres monteras, tres capotes
en el redondel
y un clarín que corta el viento
anunciando un toro negro
que da miedo ver.

Chicuelinas de verdad,
tres verónicas sin par
y a caballo con nobleza
lucha el picador,
y la música que suena
cuando el toro y la muleta
van al mismo son.

Viva el pasodoble
que hace alegre la tragedia,
viva lo español,
la bravura si medida,
el valor y el temple
de esta vieja fiesta.

Viva el pasodoble,
melodía de colores,
garbo de esta fiesta,
queda en el recuerdo
cuando ya en el ruedo
la corrida terminó.

Cavalos engalanados com grinaldas multicolores e atrelados a velhos coches aguardavam o fim da faena, sacudindo as caudas entrançadas na vã tentativa de afastar as moscas. Encostados indolentemente aos varais ou sentados nos garridos bancos, os condutores esperavam que o final da tarde lhes trouxesse algum estrangeiro endinheirado, que quisesse percorrer Sevilha.
Admirei os milhares de laranjeiras que ornavam as ruas, segundo ouvira dizer um legado dos árabes que ali se estabeleceram desde o século VIII. E a Guadalupe sem chegar! Conhecera-a no Parque Maria Luísa, com mais de 400 mil metros de superfície, onde a luz nos chega filtrada pelo verde de centenas de espécies de flores, plantas e árvores, algumas seculares. Tinha sido o meu amigo José Cãno que me tinha aconselhado a que não perdesse aquela jóia, um verdadeiro pulmão da cidade. Levantara-me cedo naquela manhã de Outono. Passeava calmamente pelas áleas do jardim, admirando a flora belíssima e sumptuosa, cheirando os mil perfumes que serpenteavam pelo ar, quando senti a atenção desperta por uma linda jovem que estava sentada num dos bancos de ferro, com um livro nas mãos. Olhei-a de soslaio, como que envergonhado por desfrutar daquela forma a sua imensa beleza. A pele era da cor do chocolate, os cabelos lisos despenhavam-se como uma cascata sobre os ombros, uma grande flor vermelha de hibisco ornamentava-lhe a fronte esquerda. Das orelhas pendiam largas argolas de ouro, ao pescoço um colar de pedras vermelhas reflectia os raios de sol. Em ambos os pulsos tinha quatro ou cinco argolas de ouro iguais aos brincos. Trazia um largo vestido branco pintalgado com pequenos círculos cheios a vermelho, composto por vários folhos, como os das dançarinas de flamengo; a gola larga deixava ver o início dos seios, bem torneados, de um creme aveludado. Fiquei ali especado, a olhar, como um espantalho. Claro que ela acabou por notar a minha presença e sorriu-me. Respirei fundo e aproximei-me, apresentando-me. Disse-me que era tradutora de castelhano, que trabalhava para uma conceituada editora e que vinha ali muitas vezes descarregar o stress do dia a dia. Conversámos durante horas, era como se já nos conhecêssemos à muito tempo. Por sugestão sua atravessámos o rio e fomos a Triana. Percorremos a Calle Bétis e sentámo-nos numa esplanada à beira-rio, saboreando belas tapas de variados petiscos, acompanhadas por tequilla muito fresca. Apreciámos a vista da cidade, que se desenhava linda na outra margem. Ela contou-me que este bairro de marinheiros era forja de toureiros, cantoras e bailarinas de flamengo. Contou-me que ela própria nascera ali. Mais tarde, já a noite caíra à muito, regressamos pela ponte Isabel II e depois acompanhei-a a casa. Deixei-a no número 47 da Praça de Espanha, muito perto do jardim onde de manhã a encontrara. E combináramos aquele encontro para hoje, junto à Praça de Touros.
Preocupado, decidi ir ter com ela a casa. Fiz parar um táxi e pedi ao motorista que se apressasse. Dei-lhe uma confortável gorjeta e apeie-me junto a um quiosque de venda de jornais. Do outro lado da rua ficava o número 47. Atravessei-a a passos largos e toquei à campainha. Ninguém atendeu. Voltei a tocar, desta vez com insistência. A porta abriu-se finalmente e surgiu uma senhora de roupão, com cerca de 50 anos, que com maus modos me perguntou o que queria. Disse-lhe que a Gaudalupe tinha ficado de se encontrar comigo junto à Maestranza e que não tinha aparecido. Perguntei-lhe se era a mãe. Respondeu-me que não tinha filhos e que ali não vivia nenhuma Guadalupe. Como? Impossível. Contei-lhe que a acompanhara na véspera e que até lhe tinha aberto a porta com a chave que me dera, pois estava com as mãos ocupadas com um ramo de flores que eu lhe comprara. Que não, que ali só morava ela com o marido, que era polícia e que estava a dormir, pois regressara do turno. Insisti e ela ameaçou ir acordá-lo.
Dirigi-me ao quiosque e perguntei ao vendedor se conhecia a Guadalupe, fazendo-lhe uma breve descrição. Guadalupe? A dançarina de flamengo que morrera atropelada ia para uns dez anos mesmo ali, do outro lado da rua, frente ao número 47? O coração começou a bater-me descompassadamente. Vi tudo a girar e não me lembro de mais nada. Acordei numa cama do hospital psiquiátrico Virgen Macarena, nos arredores de Sevilha. Tem sido a minha casa desde então. A recordação de Guadalupe mantém-se tão viva como no momento em que a vi, naquela manhã de Outono, no Parque Maria Luísa.
(Gil, 04/01/07)

A médica psiquiatra, moçambicana há anos a residir em Espanha, olha com ternura para (diz ela) o seu doente preferido. Um homem calmo de olhar triste que se passeia pelos corredores e jardins do hospital, levando sempre nas mãos um grande ramo de flores de hibisco. Quando se cruza com alguém, ele sempre diz: “São para Guadalupe!...”
Está na hora do remédio e ela, ajudando-o a deitar-se, pega no ramo de flores e cuidadosamente coloca-o numa jarra que está sobre a mesa de cabeceira.
Dirigindo-se à enfermeira (uma portuguesa que recentemente chegou ao hospital) diz:
-Dê o calmante ao doente, por favor.
O homem toma o calmante, sabe que isso o ajudará a ter uma noite sem sonhos nem pesadelos.
- Boa-noite! Durma descansado, talvez ELA venha amanhã!....
-Talvez… -diz ele, prestes a adormecer .
(Carolina, 03/01/07)

Quero bem ao vento norte
Que me faz andar à vela
Quero bem ao vento sul
Que me leva à minha terra…

Cantarolava desde manhã aquela quadra que não lhe saía da cabeça. Deviam ser saudades da terra.
Há muito que que não ia até lá.
Desde que o avô morrera (saudoso tio Sabino) não regressara, não sabia que era feito da sua oficina de ferrador.
O tempo é implacável. E já lá iam uns anos desde que viera para Sevilha.
Pensava muitas vezes em voltar mas não era fácil sobreviver na sua terra, quase todos a abandonaram e como ela, muitos foram para o sul de Espanha apanhar morangos, uvas, enfim, o trabalho sazonal que houvesse, duro mas bem pago.
Mas esses tempos já lá iam, agora vivia na cidade, trabalhava como auxiliar no Hospital Psiquiátrico e já fizera muitos amigos.
Ganhou afeição aos doentes, em especial ao Sr Paco Gonzalez. Era engraçado como ele desde o princípio lhe começara a chamar Guadalupe... e não é que tinha acertado no seu nome?
Só mais tarde é que percebeu, ao falar com a Dra Marta, que ele tinha uma obsessão e visões com uma tal Guadalupe, bailarina de flamengo.
Na altura até ficou um pouco apreensiva:
- Oh doutora, será que ele tem poderes sobrenaturais?
- Não te preocupes, Guadalupe, é usual estes doentes terem destas fixações, o nome foi uma coincidência. De qualquer modo és para ele alguém especial.

Quero bem ao vento norte
Que me faz andar à vela
Quero bem ao vento sul
Que me leva à minha terra…

Continuou pelo corredor cantarolando baixinho, a pensar quando poderia ir até ao Alentejo, saudades de Serpa, da festa da Senhora de Gadalupe, da largueza dos montados e dos olivais da sua terra.

Marta por seu lado roía-se de saudades bem mais longínquas e persistentes. Não é que não gostasse de Sevilha, mas suspirava por outro calor, mais húmido, agarrado ao corpo, pelo cheiro da terra e do ar impregnado de mil perfumes. África…
A especialização que estava a fazer no Hospital Virgen Macarena ainda ia a meio e tinha mais um ano pela frente antes de regressar à sua terra; enfim , valia-se dos livros, das fotos e da música para manter vivo o seu sentimento de pertença.
(Laura, 05/01/2007)

terça-feira, julho 10, 2007