Lembro-me de um vasto milheiral, na pujança do seu verde escuro. Todo ele semeado em fileiras certinhas, tinha nos seus intervalos as aboboreiras, que estendiam as suas guias sem fim , emaranhando-se em tudo o que encontravam pelo caminho. Os grilos cantavam em sinfonia, nos dias de sol criador dessa primavera já distante. Era muito aliciante, mas expressamente proibido por qualquer agricultor, e muito mais o era, pelo nosso pai sempre com a sua autoridade em acção. Mas nós, as três diabinhas, com esperteza e manha, conseguiamos embrenharmo-nos na selva daquele milheiral denso e frondoso. Aí, a nossa imaginação não tinha limites. As maçarocas em desenvolvimento com as suas barbas loiras ou ruivas, eram as nossas simpáticas clientes do nosso imenso salão de cabeleireiro. Os penteados eram um pouco repetitivos, mas havia bastantes para o nosso treino e consolo. As nossas clientes, novas ou velhas, conforme a imaginação do momento, eram todas muito simpáticas, e as tranças e os rabos de cavalo, eram as nossas principais especialidades artísticas.
No meu tempo de menina pouca coisa havia, muito menos brinquedos, assim sendo, brincava-se sempre ao faz de conta. O imaginário era muito fértil e do pouco que existia criava-se um mundo muito mágico e fantástico, sempre com um apego muito forte ao pouco que existia, tudo era estimado e cuidado com o maior carinho. Mesmo sendo uma criança com tantas faltas e limitações, fui uma criança feliz.
No meu tempo de menina pouca coisa havia, muito menos brinquedos, assim sendo, brincava-se sempre ao faz de conta. O imaginário era muito fértil e do pouco que existia criava-se um mundo muito mágico e fantástico, sempre com um apego muito forte ao pouco que existia, tudo era estimado e cuidado com o maior carinho. Mesmo sendo uma criança com tantas faltas e limitações, fui uma criança feliz.
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Publicou a Zília
5 comentários:
Como eram saudáveis e cheias de imaginação as brincadeiras de outros tempos.
Agora tudo já foi pensado. Os meninos só "clikam". Não há nada que puxe pela imaginação.
Pois é, Zília. Só que o exemplo que colocaste tem "cara" de homem, o que até é corroborado pelo pouco "cabelo" que tem. Olha que é maçaroca "macho", Amiga, e naquele tempo não havia, como agora, cabeleireiras mistas. Homens de um lado, mulheres do outro. Era assim, não era?
Um texto deveras interessante.
Gostei amiga Zília, tudo isto para mim é uma realidade, muito se brincava, eu lembro-me do meu falecido pai, levar o milho para ser desencamisado, para nós era uma alegria, polar e saltar por cima das maçarocas :)
As maçarocas também foram as minhas bonecas da meninice, belos penteados e muitos diálogos fazia entre elas enquanto chapinhava, descalça, nos regos do milho a regar!
Querida Zilinha:
Que boas recordações, eu ainda me lembro do prazer que me dava atirar-me para dentro duma seara de tremucilha (não sei se é assim que se escreve, mas está bem, não interessa).Aquele amarelo imenso e aquele cheirinho, que bom.
É incrivel como os cheirinhos da minha infância ainda permanecem em mim, depois de tantos anos.
para o Gil diz-lhe que é milho rei, nas desfolhadas dava direito a um beijinho.
Beijinhos
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