terça-feira, janeiro 29, 2008

domingo, janeiro 27, 2008

Ennio Marcheto


Divirta-se com este vídeo. Clique na imagem.
(Formação "Jogo e Imagem")

quinta-feira, janeiro 24, 2008

Três Inofensivos Sapos!


Ti Maria Penelinha era no dizer das pessoas da sua idade, uma mulher muito arreminada, significa que era muito asseada, que as suas roupas pobres estavam sempre desencardidas e os remendos que fazia tinham sempre os cantos muito bem casadinhos. Também o seu avental, para além de estar sempre bem passado a ferro, o laço era um encanto de bem feito e o seu orgulho de mulher opiniosa. Pequena e magra, mas forte para o trabalho, gostava de ter tudo sempre limpo e de cumprir todas as suas obrigações. Com o seu Ventura das Amoreiras, companheiro de toda a vida, criou os seus dois filhos, também eles pessoas de bem.
A vida decorria-lhe sempre igual, muito trabalho e muita pobreza, mas já estava habituada a esta situação sem alterações ou melhorias, mas os Invernos, principalmente nos dias de chuva ou humidade, trazia-lhe para além das já existentes mais uma preocupação e um dia aconteceu o que ela sempre temeu. Depois de todos os animais tratados vai para casa fazer o jantar e eis que ao chegar à porta fica paralisada pensando como haveria de resolver aquele problema. Tenta pensar, mas o medo é tanto que nenhuma ideia lhe chega ao cérebro.Com um pavor enorme, consegue subir para uma cadeira, depois para a arca e de seguida para a mesa que sempre é um pouco mais alta.
Ali fica acocorada encostada a parede com medo, frio e fome, esperando que a sorte lhe traga da taberna o mais cedo possível o seu Ventura.
Ventura das Amoreiras vinha quentinho com as rodadas de bagaço que consumiu com os companheiros de sempre. Ficou preocupado ao perceber que a porta estava aberta e o candeeiro ainda apagado, mais preocupante era não ouvir nenhum rumor da mulher. Cauteloso chamou. Ti Penelinha não consegue segurar os nervos, a chorar pede ao homem que a livre daqueles horríveis três sapos que estão dentro de casa.
Ventura ri com gosto e não percebe o porquê de tanto medo de três inofensivos bichos pachorrentos.
Publicou a Zília

terça-feira, janeiro 22, 2008

Outras gentes, outras terras...

O Cego Aderaldo

Aderaldo Ferreira de Araújo é uma legenda de cantoria nordestina.
Cego, tradição de um Homero ou de um Tirésias, cumpriria o destino traçado pelos deuses de ser privado da visão para ser apenas voz. Mas que conheceu a luz e a cor até aos 18 anos.
1 – Eu venho de muito longe, desde o dia 24 de junho de 1878. Sou filho da cidade do Crato, onde nasci em modesta casa da Rua da Pedra Lavrada, atualmente Rua da Vala. Meu pai, Joaquim Rufino de Araújo, era alfaiate. Minha mãe, Maria Olímpia de Araújo, era de prendas domésticas, como devem ser todas as mulheres. Meu sofrimento, na vida, vem também de muito longe. Quando eu tinha pouco mais de dois anos, perdi meu pai. Lá ouviram falar em homem que tem ataque de congestão? Aquele velho e honrado alfaiate, que largara Crato para viver em Quixadá, aonde viera buscar fortuna, fora agarrado pela desgraça. Que pode fazer um alfaiate mudo, surdo e aleijado? Desde esse momento Amém necessidade entrou em nossa casa. Entrou e se abancou. Eu, com idade de cinco anos, tive que trabalhar na casa do Sr. Miguel Clementino de Queiroz, Amém dois vinténs por dia... E era com esse dinheiro que eu podia sustentar meu pai. Um cego andarilho, que não vendia histórias, papel reservado a eles na tradição européia, mas que ganhava a vida como um “performer” medieval. O importante não era apenas o que ele dizia, mas como dizia, a eloqüência da voz, ao artifícios da retórica, a verve de quem sempre tinha um argumento a mais para exibir no último instante e fazer calar o rival.

“Canto para distrair,
Este meu curto poema:
Vou fugindo da miséria
Que é este o penoso tema,
Desta terra de Alencar,
Deste berço de Iracema.
Fugi com medo da seca,
Do pesadelo voraz
Que alarmou todo o sertão
Da cidade aos arraiais”.
Em Belém do Pará eu conheci muitos cantadores.
Mas o mais afamado,
que emendou a camisa comigo,
foi o índio Azuplim.
Nossa batida foi a que se segue...
Eu saí do Ceará
Deixei meu triste macambo,
Com medo do dezenove,
Este pesadelo bambo.
Tinha o coronel Monturo
Junto com doutor Molambo...
A dona fome na frente,
Na cadeira do trapiche,
Dizendo:
No Ceará Tudo é fofo e nada é fixe.
Juro que aqui nesta terra
Não vinga mais nem maxixe...
A dona Fome me olhou
E disse a mim: - Eu pego!
Eu disse: - Não senhora!
Eu sei por onde navego,
Quem tem vista corre logo,
Quanto mais eu sendo cego...
Segui para Fortaleza,
Dei uma viagem além.
O barco era o “Maranhão”,
E até corria bem,
Com três dias e três noites
Chegando nós em Belém...
Quando eu cheguei em Belém,
Me encostei naquele cais.
- Aonde vai esta linha?
Eu perguntei a um rapaz
Ele disse: - Nesta linha
Passa um trem para São Brás...
Eu parti para São Brás,
Para casa de Gaudêncio
Que já conhecia bem,
Ele, Salina e Meréncio;
Junto estes amigos
Não pude guardar silêncio...
Fui para Madre de Deus,
Terra de um povo fiel,
Ali ganhei qualquer cousa
Tomei açaí com mel,
De manhã peguei o trem,
Fui para Santa Isabel...
Depois fui para Americana,
Cantei lá no Apéu,
Do sitio de São Luís
Eu fui pra Jambuaçu;
Eu cantei no Castanhal,
E no Igarapeaçu...
No primeiro Caripi
Eu cantei, lá fui feliz,
No segundo Caripi
Cantei tudo quanto quis,
E ali tomei o trem,
Fui cantar em São Luís....
Ali chegou um convite,
Eu para Muricizeira,
Depois, cantei no Burrinho
Cantei no Açaí Teuã...
Fui cantar no Timboteuã...
Segui para Capanema
Com coragem e esperança.
Passei uns dois ou três dias
E segui para Bragança,
Dizendo sempre comigo:
- Quem espera em Deus não cansa...
Quando eu cheguei em Bragança,
Não quis ir no Benjamim,
Não encontrando hospedagem,
Me hospedei num botequim,
Que era coberto e cavaco
E circulado a capim...
O dono do botequim
Veio a mim e perguntou:
- Cego de onde tu és?
Me diga se é cantador.
Me diga se não tem medo
De azuplim trovador...
Me perguntei: - Não senhor!
Será algum rio-grandense
Ou mesmo um paraíbano,
Ou um cantador cearense?
Ele disse: - Não senhor,
É um cantor paraense...
Quando findei a palavra
Vi o paraense chegar,
Ele trazia consigo
Uma viola e um ganzá,
E trazia um tamborim,
Que é instrumento de lá...
Ele afinou a viola,
Quando bateu no ganzá,
Deu um tom no tamborim
Para o baião entoar,
Eu tirei a rabequinha
E fiz a prima chorá...
C - Eu lhe disse:
- Oh! Paraense,
Es uma ninfa de fada,
Teu cântico me parece
A deusa da madrugada.
Eu lhe peço, amicíssimo,
Que cante a sua toada...
A - Cego, minha toada é,
Um trabalhador garantido.
Você pra cantar mais eu
Precisa ser aprendido,
Queira Deus tu me acompanhe, ai ai!
Pra cantar nesse gemido...
C - Meu amigo, o teu gemido,
Tem destacado valor,
Canta bem perfeitamente,
Já vi que é bom cantador,
Mas amigo, esse gemido,
Me desculpe , que eu não dou...
A - Se num dás um só gemido
Também não és cantador,
Vá cobrar logo o dinheiro.
Do mestre que lhe ensinou, ai, ai!
O cego já apanhou...
C - Se gemer foi cantoria,
Você é bom cantador,
Pois gemes perfeitamente,
No gemido tem valor,
Mas geme com grande dor...
A - Ou que gema ou que não gema,
A boa palavra encerra,
Cego, cante aqui mais eu,
Que eu vim lhe fazer guerra,
Quero que você me diga, ai, ai!
A linguagem da minha terra...
C - A linguagem da tua terra,
Não é linguagem mesquinha,
É toda no guarani
Estudada, é bonitinha!
Para que não perguntaste
A linguagem da terra minha?...
A - Eu quero é que diga da minha
Por que muda de figura:
Cego, diga para mim
O que nós chama mucura,
Quero que você me diga, ai, ai!
O que é saracura...
C - É verdade, essa linguagem
Muda mesmo de figura,
O que nós chama casaco
Vocês só chamam mucura
E o que nós chama sericóia
Vocês chamam saracura...
A - Cego, diga para mim:
O que é jamaru?
Queira Deus você me diga
O que é jacuraru,
O que é macuracar ai, ai!
O que nós chama jambu...
C - É o que nós chama cabeça,
Vocês chama jamaru,
O que nós chama tejo,
Vocês chama jacuraru,
Tipi é mucuracar,
E agrião chamam jambu...
A - Cego, diga para mim
O que nós chama jibóia,
Quero que você me diga
O que é tiranabóia,
Diga aí pra eu saber, ai, ai!
O que é “pegando a bóia”...
C - No Piauí tem um besouro
De nome tiranabóia,
Nossa cobra-de-veado
Cresce aqui, chamam jibóia,
Em minha terra almoço e janto,
... tanto aqui só “pego a bóia”...
A - Cego, diga para mim
O que é a sacupema,
Veja se você me diz
O que é piracema,
Diga aí rapidamente, ai, ai!
O que nós chama panema...
C - O que nós chama raiz
Vocês chama sacupema,
O que nós chama peixe muito
Vocês chamam piracema;
A um sujeito preguiçoso
Chega aqui chamam panema...
A - Cego, diga para mim
A língua dos Tupinambá,
A língua dos Aimoré,
Ou dos índios Caetá,
Ou sobre os índios Tamoios
Ou índios Tamaracá...
C - Sobre as gírias dos índios,
Desde o Norte até o Sul,
Pixueira é coisa fria,
Um beijo chama meiru,
Tacioca é uma é uma casa,
Morada de caititu...
A - Agora o cego Aderaldo
Me respondeu muito bem,
Vi que gírias dos índios,
Ele segue mais além,
Pelo jeito que estou vendo
Você é índio também...
C - Meu amigo eu não sou índio,
Nasci num pobre lugar:
Que é tão propenso a seca
Que obriga agente emigra
Sol danado de Iracema,
Terra de Zé de Alencar...
A - Cego, deixa de mentira,
Tua terra não tem nome,
Tua terra é uma miséria,
É lugar que não se come,
De lá veio cinco mil,
Tudo pra morrer de fome...
C - Dos cinco mil que vieram
Algum era meu parente,
Uma era tio, outro primo,
Conterrâneo e aderente,
Mais esse povo só come
Massa de figo de gente...
A - Saí daí, cego canalha,
Com a sua poesia,
Nesta minha carretilha
Você hoje se esbandalha,
Teu cântico tem grande falha,
Quer cantar mais não convém...
Você somente o que tem
É entrar no bacalhau;
Apanhar de peia e pau
Cearense aqui não vai bem...
C - De onde tu vens contrafeito,
Cabeça de onça mancho,
Bote o matulão abaixo
E conte a história direito,
Me diga o que aqui tem feito
Por estes mundos além,
Se você matou alguém
Ou então se fez barulho,
Vai muito mau seu embrulho,
Paraense aqui não vai bem...
A - Quando eu pego um cantador
Dou três tacada danada,
Lhe deixo a cara inchada
De relho e chiquerador,
É o café que lhe dou,
É isto que lhe dou,
E não diz nada a ninguém,
Apanha e fica calado,
Triste e desmoralizado
Cearense aqui não vai bem...
C - Disse uma velha na rua
Que em outros tempos atrás
Você e um seu rapaz
Lhe roubaram uma perua;
Veja que moda esta sua
Roubando quem vai, quem vem,
Como tu não tem ninguém
Mais ladrão do que você.
Tome lá meu parecer:
Paraense aqui não vai bem...
A - O cantador que eu pegar
Pelo meio da travessa
Nem Padre lhe confessa
Enquanto eu não lhe soltar,
Dou-lhe arrocho de lhe quebra,
Osso e costela também,
Quebro tudo que ele tem,
Deixo-lhe o corpo em bagaço,
Tudo quanto eu digo eu faço,
Cearense aqui não vai bem...
C - Até as moças donzelas
Pediram aos cabras da feira
Para meter-lhe a madeira
E arrebentar-lhe as costelas.
Você abra o olho com elas,
Boa surra você tem,
Boa surra você tem,
Neste dia também vem
A velhinha da perua
Quebrar-lhe a cara na rua,
Paraense aqui não vai bem...
A - Também não quero brigar,
Não sou homem de intriga,
Eu não nasci para briga
E não vivo de pelejar;
Também não quero teimar
Porque isso não convém,
Lhe venero e quero bem,
Digo isso pode crer;
Não quero lhe aborrecer,
Cearense aqui vai bem...
C - Amigo, como mudou,
Que coisa misteriosa!
Tens o perfume da rosa
Que a pouco desabrochou.
Por isso tem o maior verdor
Do que lá no bosque tem.
O anjo lá de Belém
Ouviu nossa cantoria,
Entrarmos em harmonia,
Paraense aqui vai bem...
Havia quatro cervejas
Que um coronel apostou
Dizendo que todas quatro
Pertencem ao vendedor
Nós dois bebemos as cervejas
Nem um nem outro apanhou...

Cidade de Bragança – Estado do Pará, junho de 1919
Biblioteca Virtual do Estudante de Língua Portuguesa
(publicado por Aparecida Lopes)

sábado, janeiro 19, 2008

"Ofélia"

Como o prometido é devido, apresento-vos: A OFÉLIA!
[...]
Onde é que existe outra alma como a tua?
Tens a emoção das coisas, da paisagem,
Ergues as patas a adorar a Lua!
Tens ar, inteligência, coração!
Por isso é que eu te presto uma homenagem:
Tirar as luvas e apertar-te a mão!
António Nobre / Antologia Poemas com Animais - Fotografia Teresinha
Publicou a Teresinha

quinta-feira, janeiro 17, 2008

Os prazeres da Ofélia!

Vejo-a olhar para mim com uma expressão interrogativa e expectante como que a dizer:
- Então hoje não há passeio?
Sou simplesmente uma pequena cadela sem raça definida, mas gosto e orgulho-me de saber caçar. Serei talvez, ainda descendente de algum puro e importante faro, rei da caça.
Os cheiros chegam às minhas narinas, convidativos a uma identificação certa e urgente e, é muito importante para mim descobrir quem passou por aqui, se foi gato, cão, ou para minha alegria, coelho. Bem sabes que perco a cabeça quando encontro a peugada de um orelhudo. O maior problema é que estou muito gorda e eles muito ágeis, por mais que eu me esforce, nunca consigo chegar perto daqueles lanetas, evaporam-se sempre muito antes de eu estar próxima. Mesmo sem os conseguir apanhar, gosto de correr atrás dos safados e, de lhe sentir o odor convidativo à perseguição, fintas e correrias loucas. Mas o que me dói mesmo é, todos os dias, ter que suportar a afronta daquela Januária que está no quintal a provocar-me constantemente, protegida por uma rede que me limita os movimentos, mas que aumenta o meu frenesim e apelo genético.
Apesar de todas as afrontas que a Januária me faz passar, tenho tudo para estar bem com a vida. Infelizmente, muitos dos meus irmãos são abandonados, obrigados a viver na maior miséria, simplesmente porque os humanos se fartaram deles.
-Olá Ofélia, companheira de todos os dias. O teu olhar vivo e muito expressivo, diz-me sempre o que tu queres. É o nosso passeio habitual pelos campos onde tu te sentes livre e muito feliz. Eu também partilho do teu gosto.
Como eu gostaria de saber o que foi a tua vida.
Fui buscar-te ao canil onde sei que não é o melhor sitio para se ser feliz . Apesar de haver sempre comida e água, não existem lá as melhores condições para se viver com a dignidade a que todos têm direito.
No meio dos muitos que lá vi, reparei logo no teu porte altivo e, o teu olhar mostrou inteligência e muita meiguice. Vieste comigo sem problemas ou desconfiança, aceitando tudo o que eu tinha para ti. O maior problema era não saber nada do teu passado (idade ou nome). Chamei-te por todos os que me lembrei, mas a nenhum mostraste ligação ou conhecimento. Resolvi chamar-te Ofélia.
Aceitaste sem reservas.
Acima de tudo, o mais importante é a amizade e a dedicação que tu me dedicas e eu a ti.
- Anda Ofélia, vamos passear e correr ao sabor do vento e dos cheiros.

Publicou Zília

quarta-feira, janeiro 16, 2008

INOCÊNCIA

A minha prima estava esperando bebé e já no último mês. O filho de 4 anos andava ansioso porque achava que era tempo demais para a chegada do irmãozinho(a). Um dia, depois do almoço, o miúdo foi com o pai, a um café perto de casa e a dona, que era amiga da família, com um grande sorriso cumprimentou-os e logo de seguida perguntou:
Nieta: - a mãe?

Franco: - tem um bebé na barriga?
Nieta: - ai é?

Franco: - (concordava com a cabeça e um grande sorriso)
Nieta: - e tu queres um mano ou uma mana?
Franco: - um mano para jogar à bola!

Nieta: - e o pai o que quer?

Franco: - um carro novo!

FOI UMA GARGALHADA GERAL.

Nessa manhã, o meu primo ia a sair no seu carro velhinho e o mesmo pregou-lhe a partida e não pegou. Voltou a casa zangado e a minha prima, sem saber de nada, perguntou-lhe o que tinha e
e o que queria e ele respondeu-lhe: UM CARRO NOVO!
publicado por isabel

domingo, janeiro 13, 2008

Usos, costumes e brincadeiras...


Nos meus tempos de criança, como não havia brinquedos, o faz de conta era o método utilizado para ultrapassar as nossas faltas.
Brincava sempre com as minhas irmãs e com os nossos cães, que também tinham um papel muito importante nas nossas brincadeiras e correrias. Dependendo da época do ano, assim eram as nossas brincadeiras e fantasias. No final da Primavera, época em que o milho estava a formar maçarocas brincava-se a imitar cabeleireiras afamadas, onde as nossas clientes eram submetidas a penteados artísticos, dependendo sempre das nossas vontades e criatividades.
A meio de Janeiro começava a caça aos besouros que eram apanhados para dentro de uma qualquer vasilha que era jogada para dentro da casa da prima Ermelinda que, mesmo morando a uma certa distância era considerada vizinha.
Sentiamos uma grande alegria, ao ver todos os besouros atarantados a voltearem em redor do candeeiro a petróleo e a dona da casa, por toda a "salgalhada", imitava uma grande arrelia que não sentia.
Mas....
Não havia só brincadeiras, também havia muitas tarefas, algumas bastantes aborrecidas!
Uma delas era espiar onde as galinhas tinham o ninho. Como andavam soltas, as atrevidas gostavam de os fazer muito bem escondidos, por isso era preciso descobri-los para retirar os ovos para a nossa alimentação, e evitar que aparecesse ao fim de três semanas uma galinha orgulhosa a mostrar a sua prole... todos bonitos e muito fofinhos.
Assim que a minha mãe descobria que havia uma que tinha mudado de ninho, incumbia-me da aborrecida tarefa de a seguir com todo o cuidado e alguma distância para ela não perceber que estava a ser seguida. De manhã bem cedo, ao abrir a porta do galinheiro a tresmalhada era apanhada e metia-se um dedo, geralmente o anelar no rabito para ver se havia ovo. Se fosse dia de descanso, isto é, se não se encontrava nada no interior do seu corpo, ficava livre e só no dia seguinte é que se repetia novamente a inspecção da existência ou não de ovo. Se não era dia de descanso ficava fechada mais algum tempo, até ela estar com muita vontade de ir para o ninho aliviar-se do seu ovinho.
Mas, algumas espertas e manhosas, percebiam que eu as seguia, então com esperteza elas conseguiam iludir-me com voltas e voltinhas. Perdendo-as de vista, ficava obrigada a repetir tudo de novo até descobrir o sítio onde a manhosa, secretamente tinha o seu ninho. Como era um trabalho que me aborrecia, para evitar estes contratempos muitas vezes fazia uma grande maroteira que dava sempre bons resultados.
A solução era pôr umas pedrinhas de sal no rabito da manhosa. Assim que o sal começava a fazer-lhe ardor, julgando ela que o ovo lhe estava a querer sair, ia a correr aliviar-se daquele incómodo, ficando eu livre logo à primeira, daquele trabalho detestável.

Publicou a Zília

quinta-feira, janeiro 10, 2008

Amizade é:

AMIZADE É:

- aquilo que se sente e não se pode explicar .
- aquilo que se dá com as mãos do coração .
- aquilo que se pode ver mesmo de olhos fechados .
- aquilo que se ouve no som do silêncio .
- aquilo que sai de uma boca calada .
- aquilo que não tem cheiro mas tem sabor .
- aquilo que é AMOR ...

PIublicado por isabel

quarta-feira, janeiro 09, 2008

O Menino Jesus e o pero bravo Esmolfe!


Minha avó paterna guardava a fruta em palha de centeio para a conservar até ao Inverno.
Os peros que mais duravam eram os bravos Esmolfe. Assim em Dezembro, todas as vezes que eu fosse à Igreja levava um pero para oferecer ao Menino Jesus.
O caminho até à Igreja era longo e o pero tinha um cheirinho que era uma tentação, não sei quantas vezes ele saía da sacola, mas sei que eram muitas...
Eu, cada vez que olhava para o pero, dizia: - Hoje é que vou comê-lo!...
Mas... logo a seguir pensava que o Menino iria ficar muito desiludido comigo e, desiludir o Menino eu ainda seria capaz... O pior é que a minha avó estava sempre na Igreja a ver-me entrar para saber se eu cumpria todos os rituais que ela em casa me ensinava. E assim... não me atrevia porque para ela a desilusão seria muito maior!
O meu grande desgosto chegava sempre no Dia de Reis, quando o meu pai, com uma sabedoria que só ele tinha, leiloava todas as prendas que tinham sido dadas ao Menino Jesus!
Então, eu na minha pouca idade, tinha todos os anos uma conversa séria com o Menino, fazendo-lhe sempre a mesma ameaça: - Para o ano, como os peros todos e não te trago nem um!
Todavia no ano a seguir a estória repetia-se, porque desiludir o Menino não era difícil; difícil era desiludir a minha avó Custódia!

Publicou a Aldina
CENTENÁRIO DE SIMONE DE BOUVOIR

Hoje cem anos depois do seu nascimento,

Continua a marcar presença pela actualidade

Das suas múltiplas facetas:

A de mulher que fez o combate das mulheres

De filósofa e de escritora

Uma mulher livre!!

Tirado de um artigo de Ana Marques Gastão
Diario de Noticias 9/1/2008

publicado por Lena Almeida

terça-feira, janeiro 08, 2008

O Natal da Ratazana...(pois...)



Ratazana Esfomeada

Em criança, mesmo não tendo uma festa com prendas, mimos ou abundâncias desejava sempre a chegada do Natal. Nada disso havia, mas a referência a esta data, considerada de festa, enchia-me de alegria e expectativa, podia ser que no sapatinho aparecesse um rebuçado ou um pequeno chocolate ou, talvez a tão desejada moeda de cinco tostões.
Muitas vezes se a fase da lua o permitia, matava-se no dia de Natal, o porco, que fornecia o alimento da família para todo o ano. Juntando a matança com o Natal, era mesmo uma grande festa, porque havia muitos convidados, familiares e vizinhos, todos eles alegres, brejeiros e muito conversadores, principalmente ao jantar, quando os afazeres eram menores e o vinho novo já tinha mostrado o efeito de euforia.
Não tenho muitas recordações de Natal, porque nada havia para oferecer ou para encantar a fantasia das crianças, mas lembro-me de um Natal em que uma ratazana esfomeada nos roubou uma boa parte da perua, arranjada e postejada, guardada na arrecadação, onde ela (ratazana) trabalhou afincadamente até levar para os seus esconderijos, praticamente todo o nosso suposto manjar.
Chamou-se o Tareco e o Franjinhas, mas nada nem ninguém conseguiu descobrir a espertalhona. Só passados uns dias é que a gulosa farejou nova refeição numa armadilha preparada para ela.
Estava gorda e lustrosa , penso que o Tareco ficou um pouco confuso com aquele petisco.
- Ratazana com sabor a perua?!...
Comeu com gosto e como todos os gatos, depois de comer, limpou os bigodes e foi dormir uma bela soneca!
Publicou a Zília

segunda-feira, janeiro 07, 2008

UM NATAL ESCURO...


A casa da minha tia Guilhermina era encostadinha à minha, a chaminé única, servia as duas cozinhas. Lembro-me muito bem que a minha chaminé tinha um buraco grande e por ele passavam as conversas, o soar das badaladas do relógio de cuco, o som dos tachos e panelas da casa da tia... parecia que vivíamos todos numa só casa.
Nos dias que antecedia o Natal, a minha mãe, o meu pai e eu, assentávamos arraiais em casa dos tios; a azáfama era grande; amassava-se e tendia-se pastéis e fritos; embebedava-se o peru, lá no quintal, para depois acabar tostadinho no forno grande; escamava-se o bacalhau depois de demolhado; lavavam-se as couves; descascavam-se batatas doces e brancas; tirava-se o vinho da pipa.
Vivia-se o Natal em família e cheio de alegria!
Eu, ainda pequena, sonhava com a noite de natal...os presentes no sapatinho...o Menino Jesus...ai e as maldades descontadas nos presentes...que preocupação!
Naquela noite não dormia.Todos os sons que ouvia, imaginava as prendas a caír do céu para os meus sapatinhos... e ouvia mesmo!
No dia seguinte, logo pela manhã, corria ... e lá estavam eles. Uma caixinha de lápis de cores, panelinhas, pratinhos...uma blusa de lã angorá e cor amarela, uma saia pregueada azul escura...e muitos, muitos FLOCOS, espalhados pela chaminé e por toda a cozinha.
Flocos, não de neve branquinha, mas flocos de fuligem muito negra, que sujavam as mãos, os cabelos, os olhos, o rosto...
Foi o Natal mais escuro da minha vida, mas a verdade, verdadinha é que os presentes vieram mesmo pelo buraco da chaminé...
Publicou a Céu L. Paulo

quinta-feira, janeiro 03, 2008


Durante a minha vida muitas pessoas passaram por mim dia após dia, mas só algumas pessoas ficaram para sempre no meu coração. Ás vezes pelo simples facto de terem cruzado na minha vida, de terem dito uma palavra de conforto quanto eu precisei, ás vezes por me terem dado um minuto da sua atenção quando precisei de falar das minhas angústias, vitórias e derrotas. Ás vezes por terem confiado em mim e me contarem também os seus problemas e vitórias, isso é ser amigo, é ouvir, é confiar e amigos de verdade ficam para sempre nos nossos corações, assim como as pegadas na alma são indestrutíveis!
Bom ano para todos "ASAS" com Amizade!

Lena Almeida
Janeiro 04, 2008

Uma estória de Natal...talvez...


Logo que a minha rua foi arranjada e lá colocaram postes para a luz, eu pensei: "Um dia uma gaivota vai pousar ali!"
Há quatro anos atrás isso aconteceu pela primeira vez.
O telefone tocou e a minha amiga Maria (Belga), chorando do outro lado do fio dizia-me:
- A minha filha Vera morreu!
No mesmo momento olhei pela janela e lá estava a Gaivota!
Era dia de Natal!
Não pude deixar de associar os dois acontecimentos e murmurei "Vera?..."
Vera tinha morrido nesse dia. Sempre amara Portugal desde que em criança viera com os irmãos e os pais. Todos os anos a família continua a vir passar férias a Sines. Vera nunca mais pôde vir. Uma grave doença de coração impedia-a de andar de avião. Fizera três operações mas, aos quarenta e cinco anos, nesse dia de Natal o seu coração parou.
"Quem sabe se finalmente livre dos seus males, o seu coração tomou asas de Gaivota e ela voou até Sines?..."
E de há 4 anos para cá no dia de Natal a Gaivota vem pousar no candeeiro.
É evidente que tudo isto são coincidências. Desde Outubro que a praia se encheu de gaivotas, que são aves de arribação. Todavia, já me dei conta que há um bando que só chega no Natal! E esse é o bando que me conhece, espera que eu apareça na janela e começa a rodopiar na minha frente esperando que eu lhes atire para o chão pedacinhos de pão que elas esfomeadas se apressam a comer.
E agora já sei que durante 2 ou 3 três meses terei estas visitas diárias frente à minha janela e não há pão que chegue para tanto bico...
Depois partem e passarei a ir levar o pão à praia nos meus passeios no calçadão. Lá estão as outras, as tais que não sabem onde eu moro.
Uma curiosidade: Quando o pão é muito duro elas pegam-lhe com o bico e vão rebolá-lo na água do mar até ele amolecer e só depois o engolem!
BICHINHO ESPERTO!!!...
Não sei se é uma estória de Natal. Mas no dia de Natal, uma Gaivota pousa no candeeiro da minha rua anunciando a chegada do Bando!
Publicou carolina

quarta-feira, janeiro 02, 2008

O Natal dos meus tempos de menina...

O Natal, dos meus tempos de menina, era mais ou menos como o de hoje.
Muita excitação, muita ansiedade, muito colorido… a diferença era que, em vez de recebermos os presentes à meia-noite, só os recebíamos nas manhãs do dia 25, e então essa noite tornava-se a mais longa de todas (também não recebíamos a quantidade de presentes que se recebe hoje).
Recordo-me, de um Natal em particular.
Tal como hoje, nós as crianças também fazíamos os presentinhos de Natal na escola para o pai e para a mãe, lá em casa como éramos 3, que trabalheira, que “drama”, não só os fazermos como ainda termos que escondê-los uns dos outros. Cada um de nós queria fazer o presente mais belo, mais original…
Mas houve um Natal em que só entreguei um presente.
- Lembro-me como se fosse hoje, enterrei-o no meu quintal, como se tivesse a certeza que nessa noite o irias buscar, pai.
Agora passados, todos estes anos, já só somos 2, e continuamos a esconder os presentes (uma da outra) que compramos à mãe (já não os fazemos).
- E o teu, pai, já não o enterro, continuo a guardar o meu, e também o do Rogério, bem guardadinho no cofre do meu coração.
Pois sei que todos os natais os vais receber e continuará, tal como ontem, a magia do Natal e o renascer desse Menino que se fez Homem para nos salvar.
Silvana Ramos Sapage srs