segunda-feira, fevereiro 04, 2008

Uma cobra no sapato...

Enquanto calça as meias de cordanito, ti Maria da Serradinha vai pensando no que tem que comprar para a sua filharada. Para os moços já sabe que tem mesmo que comprar o cotim oficial para um par de calças para cada um. As camisas ainda tem atamanco com os habituais remendos e com um colarinho novo, ficam boas por mais algum tempo. A Maria tem preciso de alguns novelos de linha para fazer a renda do seu enxoval e as meias domingueiras. A Tóina precisa dum lenço para a cabeça. Se o ti Zei do Otêro tivesse por lá uma lãzinha cardada até podia ser que comprasse um corte para as saias das moças. O dinheiro da venda do milho tem que ser muito bem orientado para chegar para tanta precisão.
Da rua chega a lenga lenga habitual do seu Zei Maria a bruchar o macho. Já sabe que tem que se apressar, o seu homem não gosta de esperar, o tempo é sempre pouco para os muitos afazeres que tem a seu cargo. Olha os sapatos, já gastos que estão debaixo da cadeira e pensa que precisava de passar pelo Zei Nesga para mandar fazer uns sapatos, mas para não serem tão pesados não os queria cardados.
Foi ao calçar-se que tudo aconteceu, só não morreu de susto porque não calhou. Ao enfiar o pé no sapato encontrou algo que não dava espaço para o seu pé; intrigada espreita o que poderia estar lá dentro. Os seus olhos cansados pousam no seu grande inimigo. Uma longa cobra que sentindo-se incomodada se encrespou e soprou o seu aborrecimento contra aquela desnorteada e incrédula mulher. Aos seus gritos todos acodem. Com a ajuda do ferrolho e muita sabedoria conseguem dominar a assanhada e perigosa intrusa.
Meias de cordanito – opacas e margeadas, feitas de algodão muito fino.
Cotim oficial – tecido fino e acinzentado, próprio para calças usadas muito bem vincadas.
Atamanco – arranjo
Lã cardada – lã muito fina e levemente felpuda
Bruchar – atrelar o carro no macho
Ferrolho – termo para espingarda

Publicou a Zília

7 comentários:

Unknown disse...

Querida Zilinha:
Mas que presente que a Ti Maria da Serradinha tinha no sapato, estou toda arrepiada, mas as cobrinhas de vez em quando andavam por ali e essa achou que o sapatinho da Ti Maria era a sua casinha.
Ainda há pouco tempo encontrei-me com uma filha dela, e gostei mto, foi amorosa comigo e mimou-me como se eu fosse ainda aquela criança que ela conheceu.
Já sabes, eu que adoro mimos, até vim de lá mais gordinha.
Continua a deliciar-nos com as tuas histórias.Eu estou à espera da Cinderela,à tua maneira.
Beijinhos
Bia dos Santos

Anónimo disse...

Pois a cobrinha que eu pus no blog, essa está muito quietinha. Vamos ver se arranjo uma toda remexidinha!

António Gil disse...

Pois é, Carolina. Cobra teimosa, nem trocando-a por uma prima mais novinha, ela mexe. Tal tá a moenga, hem?!?!? Quanto à história, é um facto da vida real, muito bem descrito pela "câmara" da nossa Zília.

Anónimo disse...

Gostei da historinha Zilia , pois não gosto muito de cobras mas esta está gira,beijinhos.

Anónimo disse...

Olá amigos, como se vê, esta cobrinha é muito sossegada e até simpática. Mesmo assim há muitas pessoas que não a desejam por perto.
Sapos pachorrentos, cobras adormecidas ou até um esfomeado gato, podem causar arrepios a qualquer um. No campo,pessoas e bicharocos por vezes encontram-se em situação de surpresa e susto, mas nada de grave ou preocupante.
Eu tenho a sorte de me dar bem com todos, somente um é que me causa algumas cautelas. Adivinhem qual é.
Beijos da Zília

Anónimo disse...

Olá Bia, estás á espera da cinderela, isso é muito difícil,os bichos e estas histórias são mais fáceis e práticas.
Beijos da Zília

Anónimo disse...

Cobrinha danada!
Amarelinha dum raio!
É que ñ se mexe mesmo!
Diaba!