sábado, dezembro 29, 2007

Retalhos de Um Natal Alentejano!


A tia Maria já lá vai montada
Na sua burrinha, toda atarefada.
Vai levar o trigo, trocar por farinha,
Pra fazer o pão logo à tardinha.
De regresso a casa passa pela feira,
Vem fazendo contas: - Que grande canseira!
Só posso levar castanhas e nozes,
Da massa do pão faço umas filhozes.
Ao chegar a casa descarrega a burrinha,
Põe o avental, peneira a farinha.
Amassa o pão, põe a levedar.
- Ainda não é desta que vou descansar!
Prepara a lenha p'ra acender o forno.
- Mas que vida é esta ?
Ó vida de um corno!
O pão levedado já o vai tender,
O forno já quente põe-no a cozer.
E com tudo isto está muito cansada.
E ainda lhe falta fazer as filhozes
Para a Consoada ...
(Eduarda Rosa)
(Eduarda Rosa é cunhada da Zília e nossa colega na Academia Senior de Almada)
Publicou carolina

4 comentários:

AnaCasimira disse...

Obrigada a quem publicou "Retalhos de um Natal Alentejano". Adoro este pequenino texto,sabendo eu quem é a autora. pois, sou colega e amiga da Eduarda Rosa.

Carolina disse...

Olá Ana Casimira, bem vinda ao nosso blog.
Também gostámos do texto da Eduarda!
Bom Ano Novo Para vocês!
Voltem sempre.
;)))

António Gil disse...

Lindo texto em verso. Não conheci lá muito bem a realidade que a Eduarda narra, mas por pedaços que tenho ouvido aqui e ali, a vida dessas senhoras das aldeias, sobretudo no Alentejo, devia ser mesmo uma "vida de um corno", com todo o significado dessa interjeição popular. Era concerteza uma vida de dificuldades que, paradoxalmente, até aumentavam nos Natais, com a necessidade de comprarem mais coisas com o pouco dinheiro de que dispunham (não havia subsídios de Natal como agora). E o trabalho, esse, também aumentava concerteza naquelas "festas", que o eram para os outros, não para quem as preparava. Obrigado, Eduarda Rosa, por esta bela contribuição.

lami disse...

Um Natal de trabalhos e de pobreza que tantas vezes esquecemos.
Uma realidade que não vivi mas que era tão comum. Felizmente hoje pelo menos haverá mais uns "cobres" para a maioria das pessoas mas as "canseiras" continuam para grande parte das mulheres nestes dias de festa!