
Havia naquele dia um grande labarito.
O galo todo rechelês cacarejava, arrafanhando todo o milho. Depois amarinhou para o poleiro.
O cão rosnava acaçapado atrás da casota.
A avó estava apoquentada, numa mão levava uma rodilha e na outra, uns tanganhos para o lume.
Nisto, caiu uma zipada e o avô foi ao postigo bispar.
A chuva era tanta que até fazia esporedo.A mãe apareceu com a sogra à cabeça. Pegou na enfuza e acilhou-a em cima da sogra.
Na cheminéi via-se um cacifre todo cheio de morraça que a gata lembia.
- Ó mê estapor- bradava a avó à neta- anda cá p'ra eu te fazer a marrafa!
Mas a gaiata era uma lembrisca! Nã tinha trembelho e caiu um malhão em cima duma caçoila e escaqueirou-a toda.
A mãe gritou:
-Grande zòpeira! Ainda levas um ensaio de porrada!
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(Texto composto com "palavras de antigamente", recolhidas do livro«TEMPOS DE MUDANÇA» de Maria da Conceição Vilhena. Um interessante livro sobre Santiago do Cacém e o seu concelho, que me faz recordar "passados" ainda tão "presentes"na minha memória).
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Publicou carolina
rechelês(vaidoso, emproado); labarito (barulho); acaçapado (encolhido,escondido); rodilha( pano); tanganhos(pauzinhos para atear o lume); zipada(chuvada); bispar(espreitar); esporedo(poeira); sogra( rolo de pano que se punha à cabeça para transportar coisas pesadas); enfuza( recipiente de barro para ir ao poço buscar água); cacifre (frigideira); morraça (sujidade); estapor (coisa ruim); marrafa(risca no cabelo);lembrisca( endiabrada); trembelho (juízo); malhão (queda); caçoila( tacho de barro); zòpeira (velhaca).