quarta-feira, junho 27, 2007

As aventuras da Januária!

Mais um dia igual a tantos outros. Todos as horas sinto o cheiro intenso das estevas e do mato, desta vasta extensão de terra convidativa a uma vida diferente da que eu tenho. Como eu sonho com a liberdade que existe fora deste pequeno e incomodo caixote. Sei que a vida livre não é somente liberdade, há muitíssimos perigos e a comida nem sempre é abundante.
Aqui sou bem tratada, a ti Jacinta faz tudo o que pode para eu ter tudo o que ela acha que me é necessário. Até fala comigo e faz-me sempre festinhas muito doces. Penso que ela sofre de solidão. Com a família longe, somente tem por companhia o Fadista, velhote como ela, mas que ainda não perdeu o seu instinto que o fez em tempos idos o melhor cão de caça das redondezas. Os olhos dele assustam-me, mas sei que estou protegida
- Oh, mas o que é isto?!!!A minha porta não está trancada!!!Eu posso sair!!!
Obrigada ti Jacinta, eu tenho preciso de liberdade e de conhecer o mundo. Já não sei, quantos dias vivo em liberdade, só sei que tenho muita sede, e não encontro uma gotinha de água. Como vivi sempre trancada naquele caixote, não consigo fazer as correrias que julguei poder fazer neste mundo grande e desconhecido.
Ups! Já fui apanhada por dois grandalhões, muito mais ágeis do que a ti Jacinta.
Não me fizeram mal, mas estou muito assustada e, só agora sei que não gosto de andar de carro, nem estar no colo desta grandalhona que me segura e afaga as orelhas.
Ah, mas o que me está acontecer?!!!
Tanta gente, pequenos e grandes e, um cão amarelo, muito atrevido que me quer abocanhar!!!
Que vergonha!!! Sinto-me indignada e violada!!! Alguém despudoradamente investiga o meu sexo e, grita –
- É fêmea e vai chamar-se Januária.
- Que confusão, a ti Januária chamava-me coelha!
Sou largada num grande recinto com algumas árvores e muitos pintos e galinhas que me olham com muita curiosidade, mas, felizmente pouca aproximação.
Nos meus “caçapinhos” tento orientar-me e ás minhas narinas chegam odores agradáveis mas desconhecidos, que me dão a informação que estou num grande recinto onde posso correr e saltar. Para dormir protegida tenho, virada a nascente, uma confortável casinha, com um óptimo telheiro, bastante espaçoso para as taças da água e ração, onde até posso dormir tranquilamente as minhas sestas.
Os meninos, já sei que são irmãos, o maior é o Nicolau e o outro, o mais tagarela e irrequieto, chama-se Samuel, amigavelmente oferecem-me umas apetitosas e fresquinhas folhas de couve. Escondo-me apressadamente, não por ter medo dos meninos, mas sim porque atrás deles vem o chato canídeo amarelo, que me olha de uma maneira muito intensa, parecendo até que o seu olhar é hipnótico.
Tranquilamente os dias passam e, esta confortável casa já a considero minha, até o canídeo amarelo, já não me assusta. Sei que existe uma rede intransponível entre nós. Gosto de cabriolar e bater com toda a força as minhas patas traseiras, em sinal de aviso e brincadeira, mas acima de tudo, de provocação e ela, agora sei que é uma cadela, também recolhida, fica estática e furiosa por eu brincar descaradamente com ela. Oiço constantemente a nossa dona em ralhos constantes
- Ofélia, tens que ser amiga da Januária!...
Tenho uma vida feliz, somente sinto falta da companhia de um Januário jeitoso, para constituir a minha família, bonita e numerosa.
No principio do Outono, ele estará comigo!

(Texto da Zília)


4 comentários:

Anónimo disse...

Mt bem, a nossa Zília sempre inspirada. Desta vez temos uma história infantil!
As aventuras da "Coelha Januária" que é o "ai jesus" dos netos e da avó!

Anónimo disse...

Querida Zilinha:
Adorei a histórinha e o nome da coelha, está muito bem posto.
BJS

Anónimo disse...

Mais uma linda História infantil!!!
Contada pela nossa Zília, muito bonita bjs, para a avó e os seus netinhos ...

arlete disse...

ola Zilia
Gosto de ver que se conseguiu sair da casca. Venham mais historias que lemos com gosto.
Bjs a pequenada,netos e amiguinhos dos netos