quarta-feira, fevereiro 04, 2009

Muitas diferenças...

Muitas diferenças

Custóido do Monte Branco olha envaidecido para o neto de dez anos, feliz a jogar na sua consola, oferecida no último Natal.
André é o único neto deste homem de coração aberto, agarrado à terra e as suas tradições .
Apesar das enormes distâncias existentes, geográficas, vivências e idades, são grandes amigos e o cachopo mostra interesse em perceber os afazeres e a linguagem deste avô com hábitos tão diferentes do avô Camilo a viver no mesmo prédio e na mesma cidade de André.
Custóido sabe que o neto gosta do campo onde há muito espaço e muitas coisas novas para descobrir e quer ensinar-lhe todos os usos e tradições da terra, para que o seu menino, não perceba só de consolas, computadores e outras coisas próprias das grandes cidades, também bonitas, mas onde existe tudo feito, exposto em montras sempre iluminadas. Homem do campo, não percebe nada daquelas engrenagens estranhas que o seu neto domina com sabedoria, mas está pronto para lhe ensinar todos os jogos da sua infância distante. Lembra-se de jogar ao pião e ao berlinde com o Caspirra e o Cachola, amigos de todas as brincadeiras, aventuras e diabruras. A porca xelica, também era um dos jogos preferidos, mas quando jogava ao ringue tinha que ser ágil e estar sempre muito concentrado para se defender e mandar com mão certeira, para o coito, todos os elementos possíveis da equipa adversária. A bola era do agrado de todos, sempre com desafios acalorados e prolongados. Gostava de fazer os seus próprios arcos, onde o segredo do ganho não estava só na agilidade e rapidez mas principalmente no gancho bem liso. Na corrida dos sacos era o Cachola que cortava em primeiro a meta, um pé descalço, sempre bem disposto que gostava de olhar as estrelas em céu aberto.
A passarada toda ela conhecida, não conseguia fazer ninho que estes compinchas não descobrissem, com o pacto de nunca os destruir. Custóido na idade do neto, conhecia todos os bichos, pequenos ou grandes, domésticos ou selvagens que existiam na redondeza do seu monte.

André gosta de ouvir o avô com as suas histórias verdadeiras e termos esquisitos, principalmente quando lhe fala dos nomes das peças da charrua, carroça, trilho ou carreta, hoje tudo isso em desuso. No tempo de governo do avô, como não havia máquinas, os animais trabalhavam, coisa que faz confusão a André.
Custóido, carinhoso pergunta:

– Então, já consegues dizer os nomes das peças que constituem a carreta?
André, hesitante responde – O suporte principal da estrutura da carreta é a perica, a ligação dos bois à carreta é feita através da canga e da perica, mais a pigarça e a chavelha, falaste-me ainda do fueiro, taipal, rabeira e tantos outros que ainda não sei identificar.
Os olhos deste avô, brilham com a vaidade que tem pelo neto e percebe que a tradição da sua terra não se vai perder.

Texto da Zília/16-01-2009

Publicou carolina




6 comentários:

Anónimo disse...

A Zília, sempre a ensinar-nos coisas do antigamente!

Anónimo disse...

É verdade Carolina a Zilia tem historias muito lindas, à muito que não a vejo, ainda bem que pôs essa história e a música é nossa, estamos a ensaiar, um beijo, saudades suas.

Carolina disse...

Obrigada pelas saudades.
À aula de italiano tenho ido porque é de tarde e... numa sala com LUZ!!!
;))))

lami disse...

Ainda bem que a Zília nos traz estas recordações e que a Carolina não se esquece de as dar a conhecer.
Um mundo e Vidas que já mal se vêem hoje!

Jelicopedres disse...

Gostei da tua História Zília.
É fácil imaginar esse senhor Custóido, olhando orgulhosamente para o neto, prevendo que, ele irá um dia continuar com a faina no campo, de que ele tanto se orgulha e gosta...!
Bjs.

lami disse...

Quem levanta o prémio que o Canto das Letras recebeu em "xonguila" ?????