domingo, dezembro 27, 2009

Memórias...


Bento do Sobrado

No horizonte já pintado de cores quentes, o sol anuncia que o dia vai ser de canícula intensa. No prado a erva rasteira, brilha como diamantes num jogo de gotículas de orvalho e raios solares.Um forte odor a feno fresco, perfuma a manhã ainda em principio, mas já com vida e movimento.
Sentado no pouco que resta de um tronco de oliveira, Bento do Sobrado olha o horizonte largo e pensa na sua vida já longa, mas ainda de vigor e muitos afazeres.
Afaga as suas brancas barbas e deixa-se envolver nas suas recordações, tão nítidas como um filme a passar diante dos seus olhos, azuis como o céu sem nuvens.
Olha as suas terras, hoje de pastorícia, ontem de sementeiras. Ao longe vê o seu moinho já acusando algumas necessidades urgentes; a dor da perda instala-se no seu peito magro.Recorda a sua juventude, o seu principio de vida muito árdua, mas compensada com o amor da sua companheira e dos filhos que não tardaram em chegar ao seu pequeno lar de algumas faltas.
Assiste sempre ao deslumbramento do nascer do sol, e na colina a norte avista o seu moinho há muito parado, não por falta de vento mas sim por falta de vida própria.
O grão de milho ou de trigo já não passa nas suas mós de pedra por ele picadas.As velas ainda lá estão, grandes e alvas a brilhar ao sol ainda curto. O homem abraça o velho e rilhado tronco do que antes foi uma frondosa e produtiva oliveira e deixa-se carinhosamente envolver nas suas recordações de trabalhador rural e moleiro dedicado, sábio na sua arte, mas a sua vida mudou de rumo. Na sua cabeça o seu sonho agita-se e a pouco e pouco toma a forma de uma oportunidade que não pode deixar passar sem a desenvolver. Sim, é possível. Ele está desponível para avançar de peito aberto, confiante e dedicado. Mostrar às crianças das cidades as complexas técnicas do seu moinho. Os seus lábios rasgam-se num sorriso de esperança e o seu orgulho de moleiro cresce como quando era ainda um jovem com força para desbravar o mundo.

Zília

3 comentários:

Carolina disse...

E os meninos vão gostar muito de aprender.
Gostei de ler as memórias do Bento!
;)

O céu da Céu disse...

E são as memórias que transmitem os conhecimentos e depois seguem-se as descobertas...e não pàra...tal como as velas do moinho enfunadas pelo vento.
Uma bonita história da Zília.
Feliz Ano Novo para todos.

Jelicopedres disse...

Olá Zília, há quanto tempo!
Já não te vejo desde o ano passado.
Tenho andado ocupadíssima, para cá e para lá...
Preciso de férias, agora.
- Este teu texto traz-nos um pouco de cor e de calor, neste Inverno frio e chuvoso.
Seria lindo se, este sonho de Bento Sobrado passasse a ser uma realidade.
Beijinho par ti e FELIZ 2010*_*)