Três Vidas em Três Canções (título provisório)
O Outono corria calmo, manso como as folhas que a leve brisa amontoava aos cantos. O rio também deslizava por baixo da ponte San Telmo sem sobressaltos, como que meio adormecido. Dizia-se que o Guadalquivir marulhava nas noites calmas velhos segredos de mouras encantadas, trazidas para Espanha de reinos longínquos, do outro lado do estreito. Havia mesmo quem jurasse ter chegado à fala com alguma delas, figuras que lhes tinham aparecido saídas do nada, contado histórias mirabolantes e, como que por magia, se tinham esfumado no ar. Provavelmente eram produto do saboroso manzanilla, vinho fino e seco, de que se usava e abusava muitas vezes. Como sempre em Sevilha e naquela estação, a temperatura devia rondar os 32 graus centígrados. A vida decorria ao ritmo da cidade, com movimentos lentos, sem pressa, onde tudo e todos se esforçavam para não gastar energias, religiosamente reservadas para as “fiestas”, onde inexplicavelmente se soltavam com um vigor de espantar.
Combinara encontrar-me com Guadalupe na Plaza de la Maestranza. A tarde era de touros, ouviam-se os “olés” do público, quase abafando um vibrante pasodoble tocado por uma orquestra de metais. Ocorreu-me a letra cantada por Rocio Jurado e que tão bem descrevia a festa brava:
Oro, plata, sombra y sol,
el gentío y el clamor,
tres monteras, tres capotes
en el redondel
y un clarín que corta el viento
anunciando un toro negro
que da miedo ver.
Chicuelinas de verdad,
tres verónicas sin par
y a caballo con nobleza
lucha el picador,
y la música que suena
cuando el toro y la muleta
van al mismo son.
Viva el pasodoble
que hace alegre la tragedia,
viva lo español,
la bravura si medida,
el valor y el temple
de esta vieja fiesta.
Viva el pasodoble,
melodía de colores,
garbo de esta fiesta,
queda en el recuerdo
cuando ya en el ruedo
la corrida terminó.
Cavalos engalanados com grinaldas multicolores e atrelados a velhos coches aguardavam o fim da faena, sacudindo as caudas entrançadas na vã tentativa de afastar as moscas. Encostados indolentemente aos varais ou sentados nos garridos bancos, os condutores esperavam que o final da tarde lhes trouxesse algum estrangeiro endinheirado, que quisesse percorrer Sevilha.
Admirei os milhares de laranjeiras que ornavam as ruas, segundo ouvira dizer um legado dos árabes que ali se estabeleceram desde o século VIII. E a Guadalupe sem chegar! Conhecera-a no Parque Maria Luísa, com mais de 400 mil metros de superfície, onde a luz nos chega filtrada pelo verde de centenas de espécies de flores, plantas e árvores, algumas seculares. Tinha sido o meu amigo José Cãno que me tinha aconselhado a que não perdesse aquela jóia, um verdadeiro pulmão da cidade. Levantara-me cedo naquela manhã de Outono. Passeava calmamente pelas áleas do jardim, admirando a flora belíssima e sumptuosa, cheirando os mil perfumes que serpenteavam pelo ar, quando senti a atenção desperta por uma linda jovem que estava sentada num dos bancos de ferro, com um livro nas mãos. Olhei-a de soslaio, como que envergonhado por desfrutar daquela forma a sua imensa beleza. A pele era da cor do chocolate, os cabelos lisos despenhavam-se como uma cascata sobre os ombros, uma grande flor vermelha de hibisco ornamentava-lhe a fronte esquerda. Das orelhas pendiam largas argolas de ouro, ao pescoço um colar de pedras vermelhas reflectia os raios de sol. Em ambos os pulsos tinha quatro ou cinco argolas de ouro iguais aos brincos. Trazia um largo vestido branco pintalgado com pequenos círculos cheios a vermelho, composto por vários folhos, como os das dançarinas de flamengo; a gola larga deixava ver o início dos seios, bem torneados, de um creme aveludado. Fiquei ali especado, a olhar, como um espantalho. Claro que ela acabou por notar a minha presença e sorriu-me. Respirei fundo e aproximei-me, apresentando-me. Disse-me que era tradutora de castelhano, que trabalhava para uma conceituada editora e que vinha ali muitas vezes descarregar o stress do dia a dia. Conversámos durante horas, era como se já nos conhecêssemos à muito tempo. Por sugestão sua atravessámos o rio e fomos a Triana. Percorremos a Calle Bétis e sentámo-nos numa esplanada à beira-rio, saboreando belas tapas de variados petiscos, acompanhadas por tequilla muito fresca. Apreciámos a vista da cidade, que se desenhava linda na outra margem. Ela contou-me que este bairro de marinheiros era forja de toureiros, cantoras e bailarinas de flamengo. Contou-me que ela própria nascera ali. Mais tarde, já a noite caíra à muito, regressamos pela ponte Isabel II e depois acompanhei-a a casa. Deixei-a no número 47 da Praça de Espanha, muito perto do jardim onde de manhã a encontrara. E combináramos aquele encontro para hoje, junto à Praça de Touros.
Preocupado, decidi ir ter com ela a casa. Fiz parar um táxi e pedi ao motorista que se apressasse. Dei-lhe uma confortável gorjeta e apeie-me junto a um quiosque de venda de jornais. Do outro lado da rua ficava o número 47. Atravessei-a a passos largos e toquei à campainha. Ninguém atendeu. Voltei a tocar, desta vez com insistência. A porta abriu-se finalmente e surgiu uma senhora de roupão, com cerca de 50 anos, que com maus modos me perguntou o que queria. Disse-lhe que a Gaudalupe tinha ficado de se encontrar comigo junto à Maestranza e que não tinha aparecido. Perguntei-lhe se era a mãe. Respondeu-me que não tinha filhos e que ali não vivia nenhuma Guadalupe. Como? Impossível. Contei-lhe que a acompanhara na véspera e que até lhe tinha aberto a porta com a chave que me dera, pois estava com as mãos ocupadas com um ramo de flores que eu lhe comprara. Que não, que ali só morava ela com o marido, que era polícia e que estava a dormir, pois regressara do turno. Insisti e ela ameaçou ir acordá-lo.
Dirigi-me ao quiosque e perguntei ao vendedor se conhecia a Guadalupe, fazendo-lhe uma breve descrição. Guadalupe? A dançarina de flamengo que morrera atropelada ia para uns dez anos mesmo ali, do outro lado da rua, frente ao número 47? O coração começou a bater-me descompassadamente. Vi tudo a girar e não me lembro de mais nada. Acordei numa cama do hospital psiquiátrico Virgen Macarena, nos arredores de Sevilha. Tem sido a minha casa desde então. A recordação de Guadalupe mantém-se tão viva como no momento em que a vi, naquela manhã de Outono, no Parque Maria Luísa.
(Gil, 04/01/07)
A médica psiquiatra, moçambicana há anos a residir em Espanha, olha com ternura para (diz ela) o seu doente preferido. Um homem calmo de olhar triste que se passeia pelos corredores e jardins do hospital, levando sempre nas mãos um grande ramo de flores de hibisco. Quando se cruza com alguém, ele sempre diz: “São para Guadalupe!...”
Está na hora do remédio e ela, ajudando-o a deitar-se, pega no ramo de flores e cuidadosamente coloca-o numa jarra que está sobre a mesa de cabeceira.
Dirigindo-se à enfermeira (uma portuguesa que recentemente chegou ao hospital) diz:
-Dê o calmante ao doente, por favor.
O homem toma o calmante, sabe que isso o ajudará a ter uma noite sem sonhos nem pesadelos.
- Boa-noite! Durma descansado, talvez ELA venha amanhã!....
-Talvez… -diz ele, prestes a adormecer .
(Carolina, 03/01/07)
Quero bem ao vento norte
Que me faz andar à vela
Quero bem ao vento sul
Que me leva à minha terra…
Cantarolava desde manhã aquela quadra que não lhe saía da cabeça. Deviam ser saudades da terra.
Há muito que que não ia até lá.
Desde que o avô morrera (saudoso tio Sabino) não regressara, não sabia que era feito da sua oficina de ferrador.
O tempo é implacável. E já lá iam uns anos desde que viera para Sevilha.
Pensava muitas vezes em voltar mas não era fácil sobreviver na sua terra, quase todos a abandonaram e como ela, muitos foram para o sul de Espanha apanhar morangos, uvas, enfim, o trabalho sazonal que houvesse, duro mas bem pago.
Mas esses tempos já lá iam, agora vivia na cidade, trabalhava como auxiliar no Hospital Psiquiátrico e já fizera muitos amigos.
Ganhou afeição aos doentes, em especial ao Sr Paco Gonzalez. Era engraçado como ele desde o princípio lhe começara a chamar Guadalupe... e não é que tinha acertado no seu nome?
Só mais tarde é que percebeu, ao falar com a Dra Marta, que ele tinha uma obsessão e visões com uma tal Guadalupe, bailarina de flamengo.
Na altura até ficou um pouco apreensiva:
- Oh doutora, será que ele tem poderes sobrenaturais?
- Não te preocupes, Guadalupe, é usual estes doentes terem destas fixações, o nome foi uma coincidência. De qualquer modo és para ele alguém especial.
Quero bem ao vento norte
Que me faz andar à vela
Quero bem ao vento sul
Que me leva à minha terra…
Continuou pelo corredor cantarolando baixinho, a pensar quando poderia ir até ao Alentejo, saudades de Serpa, da festa da Senhora de Gadalupe, da largueza dos montados e dos olivais da sua terra.
Marta por seu lado roía-se de saudades bem mais longínquas e persistentes. Não é que não gostasse de Sevilha, mas suspirava por outro calor, mais húmido, agarrado ao corpo, pelo cheiro da terra e do ar impregnado de mil perfumes. África…
A especialização que estava a fazer no Hospital Virgen Macarena ainda ia a meio e tinha mais um ano pela frente antes de regressar à sua terra; enfim , valia-se dos livros, das fotos e da música para manter vivo o seu sentimento de pertença.
(Laura, 05/01/2007)
O Outono corria calmo, manso como as folhas que a leve brisa amontoava aos cantos. O rio também deslizava por baixo da ponte San Telmo sem sobressaltos, como que meio adormecido. Dizia-se que o Guadalquivir marulhava nas noites calmas velhos segredos de mouras encantadas, trazidas para Espanha de reinos longínquos, do outro lado do estreito. Havia mesmo quem jurasse ter chegado à fala com alguma delas, figuras que lhes tinham aparecido saídas do nada, contado histórias mirabolantes e, como que por magia, se tinham esfumado no ar. Provavelmente eram produto do saboroso manzanilla, vinho fino e seco, de que se usava e abusava muitas vezes. Como sempre em Sevilha e naquela estação, a temperatura devia rondar os 32 graus centígrados. A vida decorria ao ritmo da cidade, com movimentos lentos, sem pressa, onde tudo e todos se esforçavam para não gastar energias, religiosamente reservadas para as “fiestas”, onde inexplicavelmente se soltavam com um vigor de espantar.
Combinara encontrar-me com Guadalupe na Plaza de la Maestranza. A tarde era de touros, ouviam-se os “olés” do público, quase abafando um vibrante pasodoble tocado por uma orquestra de metais. Ocorreu-me a letra cantada por Rocio Jurado e que tão bem descrevia a festa brava:
Oro, plata, sombra y sol,
el gentío y el clamor,
tres monteras, tres capotes
en el redondel
y un clarín que corta el viento
anunciando un toro negro
que da miedo ver.
Chicuelinas de verdad,
tres verónicas sin par
y a caballo con nobleza
lucha el picador,
y la música que suena
cuando el toro y la muleta
van al mismo son.
Viva el pasodoble
que hace alegre la tragedia,
viva lo español,
la bravura si medida,
el valor y el temple
de esta vieja fiesta.
Viva el pasodoble,
melodía de colores,
garbo de esta fiesta,
queda en el recuerdo
cuando ya en el ruedo
la corrida terminó.
Cavalos engalanados com grinaldas multicolores e atrelados a velhos coches aguardavam o fim da faena, sacudindo as caudas entrançadas na vã tentativa de afastar as moscas. Encostados indolentemente aos varais ou sentados nos garridos bancos, os condutores esperavam que o final da tarde lhes trouxesse algum estrangeiro endinheirado, que quisesse percorrer Sevilha.
Admirei os milhares de laranjeiras que ornavam as ruas, segundo ouvira dizer um legado dos árabes que ali se estabeleceram desde o século VIII. E a Guadalupe sem chegar! Conhecera-a no Parque Maria Luísa, com mais de 400 mil metros de superfície, onde a luz nos chega filtrada pelo verde de centenas de espécies de flores, plantas e árvores, algumas seculares. Tinha sido o meu amigo José Cãno que me tinha aconselhado a que não perdesse aquela jóia, um verdadeiro pulmão da cidade. Levantara-me cedo naquela manhã de Outono. Passeava calmamente pelas áleas do jardim, admirando a flora belíssima e sumptuosa, cheirando os mil perfumes que serpenteavam pelo ar, quando senti a atenção desperta por uma linda jovem que estava sentada num dos bancos de ferro, com um livro nas mãos. Olhei-a de soslaio, como que envergonhado por desfrutar daquela forma a sua imensa beleza. A pele era da cor do chocolate, os cabelos lisos despenhavam-se como uma cascata sobre os ombros, uma grande flor vermelha de hibisco ornamentava-lhe a fronte esquerda. Das orelhas pendiam largas argolas de ouro, ao pescoço um colar de pedras vermelhas reflectia os raios de sol. Em ambos os pulsos tinha quatro ou cinco argolas de ouro iguais aos brincos. Trazia um largo vestido branco pintalgado com pequenos círculos cheios a vermelho, composto por vários folhos, como os das dançarinas de flamengo; a gola larga deixava ver o início dos seios, bem torneados, de um creme aveludado. Fiquei ali especado, a olhar, como um espantalho. Claro que ela acabou por notar a minha presença e sorriu-me. Respirei fundo e aproximei-me, apresentando-me. Disse-me que era tradutora de castelhano, que trabalhava para uma conceituada editora e que vinha ali muitas vezes descarregar o stress do dia a dia. Conversámos durante horas, era como se já nos conhecêssemos à muito tempo. Por sugestão sua atravessámos o rio e fomos a Triana. Percorremos a Calle Bétis e sentámo-nos numa esplanada à beira-rio, saboreando belas tapas de variados petiscos, acompanhadas por tequilla muito fresca. Apreciámos a vista da cidade, que se desenhava linda na outra margem. Ela contou-me que este bairro de marinheiros era forja de toureiros, cantoras e bailarinas de flamengo. Contou-me que ela própria nascera ali. Mais tarde, já a noite caíra à muito, regressamos pela ponte Isabel II e depois acompanhei-a a casa. Deixei-a no número 47 da Praça de Espanha, muito perto do jardim onde de manhã a encontrara. E combináramos aquele encontro para hoje, junto à Praça de Touros.
Preocupado, decidi ir ter com ela a casa. Fiz parar um táxi e pedi ao motorista que se apressasse. Dei-lhe uma confortável gorjeta e apeie-me junto a um quiosque de venda de jornais. Do outro lado da rua ficava o número 47. Atravessei-a a passos largos e toquei à campainha. Ninguém atendeu. Voltei a tocar, desta vez com insistência. A porta abriu-se finalmente e surgiu uma senhora de roupão, com cerca de 50 anos, que com maus modos me perguntou o que queria. Disse-lhe que a Gaudalupe tinha ficado de se encontrar comigo junto à Maestranza e que não tinha aparecido. Perguntei-lhe se era a mãe. Respondeu-me que não tinha filhos e que ali não vivia nenhuma Guadalupe. Como? Impossível. Contei-lhe que a acompanhara na véspera e que até lhe tinha aberto a porta com a chave que me dera, pois estava com as mãos ocupadas com um ramo de flores que eu lhe comprara. Que não, que ali só morava ela com o marido, que era polícia e que estava a dormir, pois regressara do turno. Insisti e ela ameaçou ir acordá-lo.
Dirigi-me ao quiosque e perguntei ao vendedor se conhecia a Guadalupe, fazendo-lhe uma breve descrição. Guadalupe? A dançarina de flamengo que morrera atropelada ia para uns dez anos mesmo ali, do outro lado da rua, frente ao número 47? O coração começou a bater-me descompassadamente. Vi tudo a girar e não me lembro de mais nada. Acordei numa cama do hospital psiquiátrico Virgen Macarena, nos arredores de Sevilha. Tem sido a minha casa desde então. A recordação de Guadalupe mantém-se tão viva como no momento em que a vi, naquela manhã de Outono, no Parque Maria Luísa.
(Gil, 04/01/07)
A médica psiquiatra, moçambicana há anos a residir em Espanha, olha com ternura para (diz ela) o seu doente preferido. Um homem calmo de olhar triste que se passeia pelos corredores e jardins do hospital, levando sempre nas mãos um grande ramo de flores de hibisco. Quando se cruza com alguém, ele sempre diz: “São para Guadalupe!...”
Está na hora do remédio e ela, ajudando-o a deitar-se, pega no ramo de flores e cuidadosamente coloca-o numa jarra que está sobre a mesa de cabeceira.
Dirigindo-se à enfermeira (uma portuguesa que recentemente chegou ao hospital) diz:
-Dê o calmante ao doente, por favor.
O homem toma o calmante, sabe que isso o ajudará a ter uma noite sem sonhos nem pesadelos.
- Boa-noite! Durma descansado, talvez ELA venha amanhã!....
-Talvez… -diz ele, prestes a adormecer .
(Carolina, 03/01/07)
Quero bem ao vento norte
Que me faz andar à vela
Quero bem ao vento sul
Que me leva à minha terra…
Cantarolava desde manhã aquela quadra que não lhe saía da cabeça. Deviam ser saudades da terra.
Há muito que que não ia até lá.
Desde que o avô morrera (saudoso tio Sabino) não regressara, não sabia que era feito da sua oficina de ferrador.
O tempo é implacável. E já lá iam uns anos desde que viera para Sevilha.
Pensava muitas vezes em voltar mas não era fácil sobreviver na sua terra, quase todos a abandonaram e como ela, muitos foram para o sul de Espanha apanhar morangos, uvas, enfim, o trabalho sazonal que houvesse, duro mas bem pago.
Mas esses tempos já lá iam, agora vivia na cidade, trabalhava como auxiliar no Hospital Psiquiátrico e já fizera muitos amigos.
Ganhou afeição aos doentes, em especial ao Sr Paco Gonzalez. Era engraçado como ele desde o princípio lhe começara a chamar Guadalupe... e não é que tinha acertado no seu nome?
Só mais tarde é que percebeu, ao falar com a Dra Marta, que ele tinha uma obsessão e visões com uma tal Guadalupe, bailarina de flamengo.
Na altura até ficou um pouco apreensiva:
- Oh doutora, será que ele tem poderes sobrenaturais?
- Não te preocupes, Guadalupe, é usual estes doentes terem destas fixações, o nome foi uma coincidência. De qualquer modo és para ele alguém especial.
Quero bem ao vento norte
Que me faz andar à vela
Quero bem ao vento sul
Que me leva à minha terra…
Continuou pelo corredor cantarolando baixinho, a pensar quando poderia ir até ao Alentejo, saudades de Serpa, da festa da Senhora de Gadalupe, da largueza dos montados e dos olivais da sua terra.
Marta por seu lado roía-se de saudades bem mais longínquas e persistentes. Não é que não gostasse de Sevilha, mas suspirava por outro calor, mais húmido, agarrado ao corpo, pelo cheiro da terra e do ar impregnado de mil perfumes. África…
A especialização que estava a fazer no Hospital Virgen Macarena ainda ia a meio e tinha mais um ano pela frente antes de regressar à sua terra; enfim , valia-se dos livros, das fotos e da música para manter vivo o seu sentimento de pertença.
(Laura, 05/01/2007)
3 comentários:
Já não lembrava deste conto! Dá-me ideia que tinha mais uma parte!
Por onde andará a Guadalupe? Que será feito da Marta?
Olá, Laura.
Esta é a Terceira Vida. Há duas anteriores a que pode aceder nos Postes Recentes (canto superior direito do blogue).
Continuação de boas férias,
Obrigada , Gil. Tenho andado muito arredia e nem dei conta. As férias são assim , trazem outras ocupações. Boas Férias para todos.
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